Tantura, o porto de abrigo lisboeta da comida israelita 

O brunch é a boa nova do Tantura, no coração do Bairro Alto, em Lisboa, ponto de partida para uma viagem pelo Médio Oriente e influências várias, que vão do Norte de África ao Sul da Europa. 

O pão, de uma variedade imensa, é o ponto de partida da partilha à mesa


Pãezinhos de beterraba e tomilho, pães de iogurte e azeitonas, pães com sementes de sésamo acompanhado por zattar (especiaria utilizada na cozinha israelita), pão iemenita, muito semelhante ao famoso panetone, servido com molho de iogurte e tomate gratinado. Tudo é apresentado ao pormenor e mediante cada pergunta incitada pela curiosidade relativamente a todo um novo léxico gastronómico, a resposta é dada a par com a maior simpatia do mundo. Acicatado o apetite, é dado início ao brunch, disponível ao sábado e ao domingo, no Tantura.

Ponha à prova as papilas gustativas, com os cocktails e sumos naturais do Tantura


“Tantura é uma pequena aldeia piscatória onde casámos e vivemos”, começa por contar Elad Budenshtiin, chef do restaurante aberto desde 2016, em pleno Bairro Alto, na cidade de Lisboa, o novo porto de abrigo partilhado com Itamar Eliyahu, Apesar de Goa ter sido a primeira hipótese a considerar para ambos passarem a lua de mel, decidiram visitar, em Junho de 2015, a capital portuguesa. “No início, ainda sentimos a velha Lisboa” e sentiram-se muito confortáveis.


“A arquitectura, o clima, o sol… Tivemos o pressentimento de que esta era a nossa terra prometida. A vida aqui é calma. Se formos para outras capitais , como Londres, Paris, Telavive ou Tóquio, não sentimos esta serenidade”, afirma Elad Budenshtiin, que trabalhou em vários restaurantes da capital de Israel, e posteriormente enveredou pela área de design de interiores. Já Itamar Eliyahu estava – e continua – ligado à gestão, atualmente, do Tantura.


“Às vezes, os seus sonhos podem ser flexíveis”. Eis um dos ditados populares inscritos em hebraico, nas T-shirts de quem serve à mesa do Tantura.

Todas as entradas são de escolher “e chorar por mais”


Depois de permanecerem por cá durante seis meses, regressaram a Tantura, venderam tudo e voltaram a Lisboa, em 2016. Na bagagem, “trouxemos um grande sonho: abrir um restaurante de comida israelita”, continua o nosso anfitrião. Encontraram este espaço e o sonho concretizou-se, como se de um compêndio culinária se tratasse, ou não fosse a cozinha do Tantura palco de legado de receitas antigas a conhecer. Tamanho património gastronómico dá azo a uma enorme profusão de sabores, que advém das origens de Elad Budenshtiin, com ascendentes da Polónia e da Indonésia, e Itamar Eliyahu, com família proveniente do Iraque a da Tunísia. 

O pão iemenita assemelha-se ao famoso panetone


Esta riqueza culinária é notória no brunch do Tantura, até porque há que voltar ao pão, a barrar com labanea (queijo cremoso feito a partir de iogurte, muito comum no mundo árabe), com azeite e zattar, baba-ganush (pasta feita a partir de beringela assada), com romã e salsa, hummus (pasta feita a partir de grão de bico e tahine), Tahine verde ou alcachofra de Jerusalém confitada. Tudo é partilhado, tal e qual como se faz na cultura mediterrânica, até porque “esta comida faz com que se sintam em casa”, acrescenta Elad Budenshtiin.

A salada israelita é uma das sugestões para o brunch de fim-de-semana


Este roteiro pelo receituário do Médio Oriente detalhadamente explicado em conformidade com a contínua curiosidade, inclui saladas, como a de rúcula com queijo halloumi, também muito utilizado na Grécia ou no Chipre, a fatush, típica do Líbano, ou a israelita, com tomate e pepino picados, e acompanhada por pedaços de pão pita torrado e com zattar, com presença forte na ementa, ou não fossem as especiarias um dos ingredientes mais importantes na cozinha do Médio Oriente, “tal como uma mulher com perfume, que, se for muito subtil, ninguém nota, mas se for forte, todos reparam. Tem de haver um equilíbrio”, explica o nosso anfitrião. “É algo mágico, que tem uma história para contar.”

O Malawach consta na lista dos ovos


Os ovos são igualmente prato a escolher para o brunch, no Tantura. Neste alinhamento, as sugestões incluem o shakshuka, nada mais, nada menos do que ovos cozidos em molho de tomate, mas a escolha pode recair no Malawach, feito com ovos escalfados colocado por cima de pão pita, às camadas, cobertos com molho de tahini e cebolinho.

A viagem continua para lá da sobremesa


Os sabores exóticos vão ate ao fim da refeição, que se quer prolongar à mesa do Tantura, onde as tonalidades de azul parecem entrar no imaginário de cada comensal, transportando, um a um, à vila piscatória de Elad Budenshtiin e Itamar Eliyahu. Há bolo de canela húmido para adoçar a alma, há bolinhos de chocolate caramelizado, para saborear com calma, e mousse de pistácio, para pôr a colher neste momento de partilha, que, à noite, dá nova vida ao Tantura, aberto de terça-feira a domingo ao jantar, com uma ementa a descobrir.

É ir! Bom apetite!


+ Tantura
© Fotografia: João Pedro Rato

Legenda da foto de entrada: Elad Budenshtiin e Itamar Eliyahu são os proprietários do Tantura

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