Cabernet Franc ou quando um vinho é indissociável à comida

Quinta do Monte d’Oiro Single Vineyard Limited Edition Cabernet Franc 2021 da Quinta do Monte d’Oiro, no concelho de Alenquer, resulta da forte relação entre pai e filho, e mostrou-se ao país e ao mundo em Setembro de 2023.

Em 2017, Francisco Bento dos Santos, director-geral da Quinta do Monte d’Oiro, propriedade vitivinícola situada em Freixial do Meio, na freguesia de Ventosa, concelho de Alenquer, decide plantar uma vinha de nove hectares na encosta sudoeste, com exposição virada a Norte, “junto à mata dos carvalhos, com vista para [a Serra de] Montejunto”. Syrah, Marsanne, Viognier e Arinto foram as primeiras castas eleitas para plantação, que ocupavam 3/4 deste pedaço de terra. Mas faltava preencher 0,24 hectares do terreno com vinha, “a melhor parcela”

Determinado, Francisco Bento dos Santos indaga o pai, José Bento dos Santos – engenheiro químico, broker de metais, Presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia e proprietário da Quinta do Monte d’Oiro – sobre que casta gostaria de ver ali plantada. “O meu pai nem hesitou: Cabernet Franc!” E logo escreveu uma carta a justificar a escolha, sob o título “A Casta Aristocrática”. 

Ao longo do documento, o proprietário da Quinta do Monte d’Oiro conta a primeira experiência com “grandes referências” vínicas feitas a partir desta casta tinta. Esta aventura teve como companheiro Jacques Puisais (1927-2020), natural do Loire, fundador e presidente do Instituto do Gosto em França, enólogo e “gastronónimo iconológico”, ou seja, uma ilustre figura no mundo da gastronomia, tal como é, ainda hoje, José Bento dos Santos. 

Como primeira lição, o proprietário da Quinta do Monte d’Oiro tirou a conclusão de que “os Cabernet Franc não são ‘vinhos de prova’, são vinhos especialmente dotados para acompanhar uma refeição”. Depois de uma breve, mas eloquente exposição sobre os atributos dos vinhos feitos a partir de Cabernet Franc, “que escaparam por completo à moda da madeira e da potência”, José Bento dos Santos referencia entradas e pratos que acompanham estes vinhos. Face a um vinho jovem desta casta, sugere o presunto, os patê e as terrinas, bem como as massa italianas, alguns queijos, pastéis de bacalhau, polvo, peixe assado no forno e caldeirada. Com a passagem do tempo, estes vinhos fazem companhia a pratos mais estruturados e complexos, como ossobuco ou rabo de boi, por exemplo, se as uvas tiverem sido vindimadas “em solos de argila e calcário”; se as videiras desta casta beneficiarem de uma “óptima” exposição solar, já condiz com “uma perna de borrego assada, carnes mal passadas, um magret de pato, javali ou veado”

Em 2021, as uvas de Cabernet Franc foram vindimadas e vinificadas na adega da propriedade. “Não hesitamos em produzir a solo e, como era uma vinha nova, com muita energia, optamos por barricas usadas de segundo ano do melhor que havia”, avança Francisco Bento dos Santos. A primeira edição saiu em Setembro de 2023, em 800 garrafas. Chama-se Quinta do Monte d’Oiro Single Vineyard Limited Edition Cabernet Franc 2021 (€50) e tem já um sucessor, a colheita de 2022, que será apresentada em Setembro deste ano. 

Brindemos!


Quinta do Monte d’Oiro

© Fotografia: João Pedro Rato

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