A natureza e o conhecimento ditam a comunhão que resulta na essência de um vinho cujo nome, diz-se, advém de uma profetisa celta, símbolo das mulheres que vaticinavam o futuro e eram sacrificadas para enobrecer o seu povo, as Velledas. Eis a origem de Aveleda, a quinta que convida a um belo passeio, repleto de histórias, no coração do Vale do Sousa, a norte.
A história começa com Manoel Pedro Guedes de Silva da Fonseca que, nos anos 1850′, acena a despedida a Lisboa e parte rumo ao norte do país, para a sua Quinta da Aveleda, do século XVI. Apaixonado pela terra e pelo vinho, inova o sistema de plantio das vinhas, com as parcelas delimitadas consoante as castas, constrói uma adega, entre outras estruturas de apoio à vitivinicultura. Pouco depois os néctares de Baco da quinta são reconhecidos, arrebatando as medalhas de ouro nos concursos internacionais de Berlim e de Paris, em 1888 e 1889 respetivamente.
Uma empresa. Cinco gerações
Entretanto, no ano de 1870, Manoel Pedro Guedes funda a Aveleda, empresa de cariz familiar, que conta já com cinco sucessivas gerações. A tradição de um saber secular convertido na aposta no vinho branco e verde, em particular num verde com história, desenhado pelo enólogo francês Eugène Hélisse que, numa viagem de comboio pelo norte, é arrebatado pela forma como são demarcadas as castas na quinta e propõe os seus serviços ao proprietário de então, Roberto Guedes, neto de Manoel Pedro Guedes. Eis Casal Garcia, nome oriundo de uma das vinhas da Aveleda.
Do legado dos tempos, a célebre quinta no coração do norte do país abre, ainda hoje, as portas de uma adega adormecida na penumbra. Um lugar na história de uma aguardente velha que repousa em cascos de carvalho durante dez anos, ao fim dos quais é engarrafada em garrafas. A primeira, cujo modelo adveio da Rússia dos Czares, por um antepassado da família Guedes que fora Embaixador de Portugal naquele país, está exposta na adega com o n.º 1. Assim é feita a Adega Velha, uma aguardente de vinho da Região dos Vinhos Verdes.
O poético jardim
A caminho do jardim frondoso, a casa da família permanece serena no tempo, com a Fonte das 4 Irmãs, em frente, um tributo às quatro irmãs Guedes, e cada perfil simboliza uma das estações do ano. Em redor, as flores brotam nas infindáveis árvores de espécies infinitas num romantismo perfeito, complementado pela Fonte de Nossa Senhora da Vandoma, uma imponentes fonte dedicada à padroeira da cidade do Porto, de braços com a natureza, palco de cerimónias primadas pelos festejos dignos de felicidade.
Mais à frente, no meio do lago, um casal de cisnes nada em redor de uma pequena ilha, onde uma casa de madeira acolhe os icónicos animais de louça com assinatura de Bordalo Pinheiro, cravejados no teto. No chão, repousa um barco e muitas histórias por contar. A janela Manuelina, da qual D. João IV terá sido aclamado rei de Portugal e oferecida a Manoel Pedro Guedes, compõe o poético cenário, assim como a Torre das Cabras, de três andares, edificada para albergar cabras anãs, símbolo de fertilidade e abundância, numa ode à natureza tão generosa com este lugar dotado de uma beleza ímpar.
Aos bons velhos tempos
No roteiro, a cozinha velha mantém vivas as memórias de outrora, onde a enorme chaminé, em forma de cone, abraça a fornalha e o forno de lenha, para cozer o pão. Ao lado, na sala de refeições, ecoam recordações dos trabalhadores desses tempos idos, assim como as charretes e o carro antigo, pertences do passado da família Guedes, que dá continuidade à tradição com saber a norte de Portugal.
Estas e tantas outras histórias preenchem a visita à quinta cuja vinha, cultivada em bardos nas terras férteis do Vale do Sousa, se encontra no epicentro da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, que faz parte do roteiro traçado numa visita memorável à Quinta da Aveleda dos nossos dias, com néctares de Baco do Minho, do Douro e da Bairrada – região onde detêm a Quinta da Aguieira, apenas com castas tintas –, acompanhados por queijos produzidos com leite da vacaria da quinta, a degustar no fim da visita e para celebrar o espírito de partilha num momento de contemplação. Paisagem ímpar, viçosa na primavera e carregada de dourados no outono, numa planície levemente sinuosa, infinita.
Para terminar, e aos que tanto apreciam os néctares de Baco, espreite a loja. (Re)Descubra os brancos, verdes e tintos com a chancela da Quinta da Aveleda e renda-se aos queijos e às compotas, e aos chocolates…
O passeio pela Quinta da Aveleda é feito mediante a aquisição do bilhete, para uma visita guiada que termina com a prova de vinhos e queijos produzidos na propriedade da família Guedes. Aos românticos recomendamos a visita sem guia, pois há um mapa que vos acompanha na descoberta de cantos e recantos de um poético jardim. Uma sugestão a considerar, antes ou depois de uma descansada estadia no Solar Egas Moniz, em Paço de Sousa, Penafiel. Quando ruma à Região Demarcada dos Vinhos Verdes? •