Há uma guesthouse na Riviera Portuguesa

Em tempos uma residência aristocrática, hoje uma trendy guesthouse com vista para o Atlântico. Assim é Villa Cascais, que reabriu com um novo estilo e reserva um espaço dedicado ao repasto com a assinatura do restaurateur Olivier, onde o vinho a copo merece um brinde.

A “Coleção improvável” de Paulo Lobo na receção da guesthouse

Falamos da outrora Vila D. Pedro, do início do século XX, projetada por José António Gaspar, arquiteto e professor da Escola das Belas Artes de Lisboa, e mandada erigir na baía de Cascais pelos terceiros duques de Palmela, que a ofereceram a Maria Vaz de Carvalho (1847-1921), poetisa, escritora e jornalista, num gesto de apreço e gratidão pela biografia que escreveu sobre o primeiro duque de Palmela, D. Pedro de Sousa e Holstein. Mais tarde, o edifício é adquirido por António Simões de Almeida permanecendo, desde então, no entretanto designado grupo Albatroz Collection cujo responsável é o neto, hoje, Frederico Simões de Almeida.

A então Estalagem Villa Albatroz é Villa Cascais, de portas reabertas desde outubro de 2015, com um novo nome e uma imagem que lhe confere uma identidade ditada pela traça original e a elegância intemporal dos interiores das quintas centenárias do Douro, influência trazida pelo designer de interiores Paulo Lobo.

Quarto com vista sobre a baía de Cascais

Entre o verde seco e o azul cobalto, tons eleitos para dez dos 11 aposentos da guesthouse – com a particularidade do segundo predominar nas zonas comuns –, está patente o “Colecionismo improvável”, título que aborda o conjunto de peças decorativas expostas na receção, nos quartos e nas suites ou no restaurante, com o irrepreensível sentido estético de Paulo Lobo.

Desde moldes de sapatos, de chapéus e de taças a pratos de faiança “do avesso” a ornamentar a chaminé espelhada da mais íntima sala d’O Reserva, e todos complementam o mobiliário vintage depurado, mas muito requintado, saído do traço do atelier que o designer de interiores beirão, nascido em Lamego, mantém na Invicta.

A suite com uma panorâmica de 360º

Com efeito, e além do conforto e da subtileza primar nos quartos do Villa Cascais, o mesmo registo sobe até ao último piso, pelas escadas de latão – metal que reveste os pisos da guesthouse –, onde se encontra a suite 360, com uma panorâmica que faz jus ao número disposto ao lado da porta.

Os moldes dos sapatos testemunham a abordagem sui generis de Paulo Lobo no Villa Cascais

Ao contrário dos quartos, do branco reveste as paredes, entre as quais estão expostos os já referidos moldes de sapatos e rasgadas amplas janelas para os terraços, de onde se contemplam paisagens tão díspares, como o casario e os edifícios que serpenteiam ao longo da linha banhada pelo Atlântico, o horizonte traçado entre o mar e o céu e a praia e a muralha da cidadela em comunhão, quase ténue, com as casas a perder de vista no contexto arquitetónico da vila.

Sobre o teto do bar, com o jogo de luz harmonizado pela arte azulejar

Antes do repasto, a recomendação recai na degustação vínica no bar, espaço preenchido pela decoração apurada de Paulo Lobo (leia aqui a entrevista à Mutante, em 2014), que enalteceu a beleza do azulejo português criando, ao milímetro,  um jogo de luz em harmonia com o azul cobalto.

São 48 as referências disponíveis nas máquinas dispensadoras para vinho a copo

Quanto à prova de uma ou mais referências dispostas nas máquinas dispensadoras para vinho a copo, basta introduzir o cartão na que contém o eleito entre as 48 referências – a maioria é de produtores portugueses e muitos prometem acicatar a curiosidade, e também os há oriundos além fronteiras, mas as escolhas vão mudadando. Por isso, é pegar num dos copos dispostos em baixo, escolher a quantidade, entre 25, 75 ou 150 mililitros, a preços democráticos… et voilá!

Ou optar pelo terraço do restaurante — ambos abertos a quem queiram experimentar, podendo a entrada ser feita pela escada lateral exterior –, para acompanhar este momento de puro prazer e lazer com dois dedos de conversa e um repasto leve, a meio da tarde, depois de consultar o menu Terrace, disponível entre as 16 e as 19 horas.

À porta d’O Reserva

Segue-se o jantar, agora sim, n’ O Reserva by Olivier, onde o restaurateur fez questão de ir buscar velhos clássicos da sua cozinha, para reavivar o palato de muitos que o conheceram em tempos idos. Com o peixe a liderar o alinhamento da carta, ou o Villa Cascais não estivesse na linha da costa atlântica, os ex-líbris de Olivier saem da cozinha do restaurante pelas mãos de Pedro Santos, o chef d’O Reserva, com quem faz um trabalho de partilha de ideias convertidas, depois, em iguarias de fazer crescer água na boca, como o gaspacho com pesto e croutons, o amuse bouche que Pedro Santos apresentou para acicatar a boca e que tão bem rima com as temperaturas aceitáveis desta estação – e com o verão que se avizinha, dizemos nós.

Carpaccio de polvo pode ser o primeiro passo para a partilha com os amigos

As gambas “à guilho”, o carpaccio de polvo e a mordela dos Açores com mel foram as entradas que se seguiram, desta feita, na companhia de um ícone da sub-região dos Vinhos Verdes Monção e Melgaço, um Soalheiro.

Para o mui guloso e viciante linguini de camarão, a escolha recaiu num Vinha da Paz branco.

O peixe, aqui representado pelo pregado, é o prato forte no restaurante

Com mar à vista, o repasto à mesa prosseguiu com um pregado, que estava no ponto, amêijoa, batata sauté e legumes salteados. Da terra veio um vinho da Casa da Passarela.

Por fim, o doce que nunca amargou foi representado por um quinteto de sobremesas interpretado por um toucinho do céu que encheu as medidas, um petit gâteau, um cheesecake com iogurte grego, para voltar a experimentar, gelado de chocolate e sorbet de lima; e acompanhado por um Blacket Tawny Reserva da Região Demarcada do Douro.

Sobre a carta, há boas novas para finais de maio. Porém, há pratos que se irão manter, como as gambas “à guilho” e o carpaccio de polvo, assim como a salada de caranguejo real, as amêijoas à Bulhão Pato ou o carpaccio de novilho. Só para abrir o apetite… e partilhar estas e outras iguarias em família e com os amigos, ao almoço ou ao jantar, sendo aconselhável a reserva através do 214 814 500 ou de info@reservabyolivier.com.

Já ao pequeno-almoço, com reserva marcada no espaço do restaurante, há muito por onde escolher, entre queijos e enchidos, tomate assado e cogumelos salteado, salmão fumado, sumos, fruta e iogurte, pão e uma pastelaria variada q.b., além dos pedidos à cozinha, como os ovos – mexidos, estrelados, escalfados –, além das omeletes, da tortilla, dos legumes salteados ou do bacon, para degustar junto à janela sempre que o dia nascer soalheiro.

A ir! •

+ Villa Cascais
© Fotografia: João Pedro Rato

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