Centro de Visitas da Taylor’s reabre as portas

A história e o legado da icónica casa fundada em 1692, e os mistérios que envolvem o Vinho do Porto fazem-se ouvir através de um audioguia, que convida a uma viagem entre tonéis centenários e mais de 1500 pipas, terminando numa prova e num brinde a um saber-fazer de séculos.

Os tonéis têm capacidade para armazenar entre 20 mil e 100 mil litros – ou mais – de Vinho do Porto

De portas abertas ao público há 35 anos, as caves da Taylor’s, na zona histórica de Vila Nova de Gaia reabriu, a 9 de junho, o Centro de Visitas após uma profunda renovação. Desde então, é possível fazer um roteiro composto por 11 etapas inscritos num mapa em papel, entregue na receção, e cada uma está associada a um tema cuja informação é ouvida através de um audioguia disponível em cinco idiomas: Português, inglês, espanhol, francês e alemão. Sempre que quiser parar a narração basta premir o botão stop ou o “0” para passar a informação mais à frente permitindo, assim, uma visita feita à medida.

“Bem-vindo à Taylor’s”. Eis o que se ouve assim que é premida a tecla 1, seguida da tecla play ainda na sala de entrada do Centro de Visitas, onde peças de mobiliário e objetos antigos desta empresa familiar complementam as paredes e o teto pintados de fresco, e o chão revestido “a novo”, e os documentos à vista de todos nas vitrinas dispostas nesse mesmo espaço que, ao fundo, é rematado numa sala de provas privada – no piso acima estão, por sua vez, duas salas privadas onde janelas de outrora deram lugar a varandas, verdadeiros miradouros com vista para a cidade do Porto.

As pipa reservam 630 litros do “ouro do Douro”

Depois de ouvir a súmula sobre a Taylor’s, é deixado o convite para entrar nos armazéns erigidos no início do século XVIII, um verdadeiro museu vivo onde está guardado o mui aclamado “ouro do Douro” – nas palavras de Adrian Bridge, CEO da The Fladgate Partnership e do The Yeatman Hotel – sob as condições exigidas.

Nas caves, a viagem prossegue com a história do Vinho do Porto produzido entre socalcos xistosos feitos pelos homens, no Douro, a primeira região vitícola demarcada do mundo regulamentada sob os auspícios de Marquês de Pombal, em 1756, tendo o registo dos primeiros embarques do chamado Vinho do Porto a data de 1678. Aqui, fala-se ainda das casas de tão valioso legado que, após a sanções à importação de produtos ingleses por parte de Colbert, o primeiro-ministro do rei Luís XIV de França, os comerciantes ingleses se viram obrigados a procurar vinhedos para lá da serra do Marão, sendo os fundadores da Taylor’s os primeiros a adquirir quintas no Douro vinhateiro, para controlar e escolher as melhores uvas conquistando, assim, o mercado de Inglaterra que, no século XVIII, foi o mais importante para o Vinho do Porto.

Entre pipas usadas e retocadas vezes sem conta está, ao fundo, um dos maiores balseiros para… o melhor é ir e saber ao certo o que se trata.

Os tanoeiros intervém sempre que é necessário, o que faz deste espaço um museu vivo

Depois de subir a rampa que se encontra do lado esquerdo – perto da qual um tanoeiro faz a transfega do Vinho do Porto –, abre-se um mundo de (re)descobertas: A região do Douro. Da divisão – Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior – ao processo de vinificação do Vinho do Porto há duas mãos cheias de conhecimento a reter pois, tal como diz velho ditado “o saber não ocupa lugar. Do vale do Douro, a abordagem continua com as quintas da The Fladgate Partnership, grupo que integra a Taylor’s – mas também a Croft, a Fonseca e a Krohn –, entre as quais estão a da Roêda (leia reportagem aqui) e a do Panascal (leia reportagem aqui), com o clima e o solo a influenciarem as uvas e as colheitas dos socalcos que serpenteiam a mais vetusta região vinícola do mundo, com especial incidência nas castas autóctones do Douro – Touriga Nacional Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinto Cão e Tinta Amarela –, as quais são colhidas na vinha cujo ciclo é acompanhado por um filme imperativo e que, durante o ano, requer muito trabalho e apreço por parte de homens e mulheres que, na adega, tornam a desempenhar um papel preponderante na feitura do Vinho do Porto.

A iluminação subtil propicia contrastes enigmáticos no interior das caves

Como é feita a vinificação? A resposta está na etapa seis, num filme exibido numa “caixa negra” que fica para lá de um túnel em forma de arco, luminoso, no qual é exibida uma fotografia mágica do céu estrelado e captado sob a Quinta de Vargellas (leia a reportagem sobre esta quinta aqui).

O passo seguinte está associado à tanoaria, onde se encontram exemplos de cascos usados no envelhecimento do Vinho do Porto – a pipa, com capacidade para cerca de 630 litros, e o tonel, onde cabem entre 20 mil e 100 mil litros, ou mais, do “ouro do Douro”. Aqui, esta arte ancestral está também representada pelas ferramentas utilizadas e pela documentação detalhada sobre tão preciosa tradição a preservar.

Caminhemos em direção ao envelhecimento ora feito em garrafa, ora em madeira, dois motes que valem pela diferença de estilos criados e cuja explicação é para ouvir.

Os apontamentos de Dick Yeatman, o primeiro exportador britânico de Vinho do Porto a especializar-se em viticultura na cidade francesa de Montpellier

Chega a vez da Taylor’s cuja história começa com John Bearsley, em Viana do Castelo, em 1692, tendo o filho mais velho, Peter Bearsley, aventurar-se pelo inóspito maciço montanhoso do interior do Douro vinhateiro, virando a página dos anais desta casa que já vai no seu quarto século, graças à atitude de ilustres figuras, como Dick Yeatman, de quem estão expostos livros e cadernos de notas, entre outros objetos pessoais, ou Alistair Robertson, presidente da Taylor’s, ou Adrian Bridge, que marca presença na entrevista sobre a Taylor’s exibida na etapa dez do Centro de Visitas, que termina, por sua vez, na Sala Vintage, a garrafeira com uma coleção de Vinho do Porto Taylor’s Vintage, que envelhece em garrafa – sem rótulo nem selo – complementada com toda a informação inerente a esta matéria, desde a evolução da própria garrafa às ferramentas que, ainda hoje, são usadas para a abrir, passando, por exemplo, à legenda construída em redor deste recipiente usado este estilo de Vinho do Porto.

No fim há que desligar o aparelho eletrónico, colocá-lo na pipa disposta junto à porta de saída, e seguir para a prova, sendo o percurso feito pela escada de acesso ao jardim contíguo à sala de provas. Para quem tem mobilidade reduzida, o acesso é feito pela rampa junto à entrada exterior do Centro de Visitas – aliás, ao longo do percurso interior os acessos são feitos por rampas.

A sala de provas, de olhos postos no jardim verá, em breve, uma mui esperada renovação

Já na sala de provas, espaço que será renovado de futuro, e de acordo com o que está incluído no valor da entrada, os visitantes podem apreciar o Taylor’s Chip Dry, ou Porto branco extrasseco – criado por Dick Yeatman, em 1934 –, e o Taylor’s Late Bottled Vintage 2011. Disponíveis estão também os Vintages da Taylor’s de 2009 e 1966, além do enigmático Taylor’s Scion. A quem quiser acompanhar a prova, pode fazê-lo com as sugestões inscritas na listas – bolachas de água e sal, tábua de uma seleção de queijos portugueses, tábua de enchidos nacionais, trufas de chocolate e amêndoas torradas.

Os enófilos, os grandes apreciadores de Vinho do Porto e os curiosos podem conhecer o Centro de Visitas, no n.º 250 da rua do Choupelo, em Vila Nova de Gaia, durante todo o ano (exceto no dia de Natal), das 10 às 19.30 horas (a última visita começa às 18 horas). O valor da entrada é de 12 euros por pessoa e inclui a prova do Taylor’s Chip Dry e do Taylor’s Late Bottled Vintage 2011.

Marque na agenda e vá! •

+ Caves Taylor’s
© Fotografia: João Pedro Rato
Legenda da foto de entrada: O cenário do Centro de Visitas da Taylor’s depois de passar a receção

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