Nas mãos do chef Hugo de Castro / Casa de Pasto

O desafio é recente e atende às expectativas que somam a curiosidade de quem arrisca em deixar-se levar pelos sabores de pratos de raiz portuguesa à boa maneira de uma casa de pasto de tempos idos.

Língua de vaca à maneira do chef Hugo de Castro

Falamos de Hugo de Castro, o jovem chef que se encontra à frente da cozinha da Casa de Pasto Corpo Santo, na famosa Rua Cor-de-Rosa, em Lisboa, onde os clássicos constam numa carta convidativa, pejada de acepipes, pitéus e iguarias, pratos principais e outros que vão ao braseiro, sem esquecer os acompanhamentos, os cremes, o couvert… e a sobremesa. Enfim, há duas mãos cheias de clássicos reinventados e interpretações de – só de ler – dá vontade de comer de tudo!

Porém, a grande boa nova é aceitar o desafio de ficar nas mãos do chef que, no âmbito deste conceito, prepara um menu composto por uma sopa – “para criar um ambiente de conforto” –, três entradas e comida de tacho, ambos “para partilhar” e que são confeccionados “com o que há no mercado” diz-nos Hugo de Castro, ou seja, com os produtos do dia, um desafio inspirado nas casas de pasto originais lisboetas. Há quem diga que o hábito domingueiro da burguesia da cidade em passear nas redondezas, onde as hortas abundavam, impulsionou o crescimento do número de casas de pasto de então, de fora para dentro – afinal, na Lisboa do século XIX, já as casas de pasto eram afamadas pelos seus guisados servidos em pratos de barro, assim como os petiscos e, em 1896, foi criada a Associação de Classe dos Proprietários de Estabelecimentos, as chamadas Casas de Pasto e de Vinhos de Lisboa que, mais tarde viria a dar origem à actual AREHSP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal.

As molejas e o molho de iscas

Voltemos à mesa da Casa de Pasto, onde o objectivo é fugir à carta e, ao mesmo tempo, entrar nas memórias do jovem chef que, em Guimarães, a sua terra natal, ia a casas de pasto com os pais, sendo esta boa nova uma forma de recriar esses momentos em família e com boa comida. “É uma cozinha que nos faz sentir confortáveis”, explica.

Depois de umas línguas de bacalhau fritas com maionese de coentros e alho que serviu apenas para entreter o palato, foi servida a sopa, um aveludado gaspacho de morangos com pickles de rabanete, alho e molho picante, a trilogia que incrementou o pico neste prato sem se sobreporem ao fruto cujo sabor se comportou com dignidade, desde a primeira à última colherada.

Interrompida o desafio, desta vez para pôr à prova uma salada de atum com pimentos assados a preceito e berbigão na chapa com gengibre, eis que Hugo de Castro avançou com molejas com um molho de iscas que combinaram na perfeição e com umas línguas de vaca preparadas e cozinhadas de uma forma bastante interessante – é ir e comer!

Para a comida servida num tacho de barro, tal como se fazia nas casas de pasto de outrora, o jovem chef vimaranense, escolheu a corvina acompanhada por um arroz de feijão ‘de comer e chorar por mais’. Mas porquê o peixe? Hugo de Castro explicou que dá mais primazia ao peixe do que à carne e que a preferência recai no que se pescou naquele dia.

Do lado de Baco, a escolha recaiu num espumante da Bairrada: Campolargo Bruto rosé 2014, feito a partir da casta Pinot Noir.

O doce da casa como nunca o comeu

Como diz o vetusto ditado ‘o doce nunca amargou´, a pouco e pouco a mesa foi-se compondo com três sobremesas, que são à parte para quem escolhe em pôr-se nas mãos do chef. Primeiro foi o doce da casa inspirado na iguaria homónima, desta feita com toffee de caramelo, nata de baunilha, creme de limão, abacaxi em calda de açúcar e a bolacha Maria partida, por cima, e servido num frasco de iogurte.

Da cenoura fez tarte para partilhar a dois

A tarte de cenoura e chocolate branco com gengibre ganhou pontos, valendo a pena a partilha, assim como o leite creme aromatizado com alfazema, para rimar com o Verão, o qual fez as delícias de todos à mesa desta Casa de Pasto decorada com mil e uma peças das faianças das Caldas da Rainha assinadas pelo célebre Rafael Bordallo Pinheiro .

O valor do menu “Nas mãos do chef” é de 25€ por pessoa (mínimo de duas pessoas) é posto à prova de segunda a quarta das 12.30 às 15 horas e das 20 às 23 horas, e de quinta a sábado, das 12.30 às 15 horas e as 20 às 00 horas. As reservas podem ser feitas através do 963 739 979.

Bom apetite! •

+ Casa de Pasto
© Fotografia: João Pedro Rato
Legenda da foto de entrada: Corvina com um deleitoso arroz de feijão

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