A ocasião assim o exige para que a tradição à mesa permaneça em boa companhia: o legado de Baco. Do Minho ao Alentejo, passando pelo Douro e o Dão, para enófilos ecléticos degustarem este Natal.
O Alvarinho clássico da Quinta de Soalheiro, na sub-região de Monção e Melgaço
Comecemos a consoada de forma descontraída, com um aperitivo: Soalheiro Clássico Alvarinho 2017. Sim! Está a ler bem: é de 2017. É um branco da Quinta de Soalheiro, “a primeira marca de Alvarino de Melgaço”, na sub-região de Monção e Melgaço, na Região dos Vinhos Verdes, desenhado pelo enólogo António Luís Cerdeira e proprietário da quinta, função que partilha com a irmã Maria João Cerdeira. De acordo com as recomendações, o vinho também “casa” bem com marisco e pratos de peixe ou de carnes de aves. Na lista das boas novas deste jovem produtor consta o potencial das castas (tinta) Pinot Noir e (branca) Sauvignon Blanc no terroir – solos de origem granítica localizados entre 100 a 200 metros de altitude e protegido pelas serras. Preço: €9,50.
A recriação do “vinho da volta” e a homenagem ao deus dos Mares feito para estar na companhia de boa música
Mergulhemos, agora, na mais antiga região demarcada do mundo: o Douro. Antes de mais, apresentamos Poseidon tinto 2014 (preço sob consulta), um DOC (Denominação de Origem Demarcada) duriense que, após 72 dias em alto mar a bordo do bacalhoeiro Coimbra e de ter beneficiado do balanço provocado pela ondulação, pelos ventos e as tempestades marítimas, regressou a terra, mais concretamente ao Cais dos Bacalhoeiros de Ílhavo, no concelho de Aveiro. A recriação do outrora “vinho da volta”, tendo este sido feito a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Sousão colhidas em vinhas velhas do Douro Superior e submetidas a um processo de vinificação superviosionado pelo enólogo Francisco Baptista. Um “deus dos Mares” da Lua Cheia em Vinhas Velhas que remete para uma boa companhia nas noites frias de Inverno ou de cabrito assado no forno.
Permita-nos que lhes apresente este branco feito a partir de uvas de uma vinha do século XIX
Continuemos pelo Douro Superior, desta vez com Permitido Branco de Centenária 2016 (preço sob consulta), do jovem produtor Márcio Lopes (trabalhou com o produtor e enólogo Anselmo Mendes, em 2005, em Melgaço, esteve na Austrália, iniciou dois projectos pessoais, em 2010, por cá e, em 2017, começou um novo na Ribeira Scara, na vizinha Espanha). A fórmula vínica deste branco é feita com base num mosto fermentado de forma espontânea em barricas de 700 litros, sem controlo de temperatura e nas quais permaneceu durante dez meses sur lie. O total de castas? Cerca de 15. Afinal, estamos a falar de uvas brancas de uma vinha datada do século XIX – Folgazão (Terrantez), Dona Blanca, Verdelho, Síria, Malvazia Rei, entre outras – e localizada a 800 metros de altitude, razão pela qual é bem capaz para aguentar pratos complexos de carne. O vinho foi engarrafado sem filtrar nem estabilizar e trata-se de uma edição limitada a 1193 garrafas numeradas.
O vinho que resulta do desafio apresentado a uma enóloga duriense: Rita Marques
Bebes.Comes Douro by Rita Marques é o tinto da colheita de 2014 que se segue nesta lista festiva e o segundo do projecto Collection de Joana Marta e Pedro Moreira, os co-mentores do blogue Bebes.Comes. Trata-se de uma edição limitada desenhada pela enóloga Rita Marques e feita a partir de castas tradicionais de vinhas velhas do produtor Conceito Vinhos, no Douro Superior, das quais fazem parte também Tinta Roriz, Touriga Franca, Rufete, Tinta Amarela, Touriga Nacional. É provar e dizer qual a melhor harmonização. Preço: €24,50.
Inovação e persistência fazem parte dos trabalhos de campo – e na adega – da bicentenária Real Companhia Velha e as palavras que deram origem a este vinho
Fechemos o capítulo duriense com uma das mais antigas empresas do país, a Real Companhia Velha, que apesar dos mais de 260 anos, aposta na inovação no mundo dos vinhos. O resultado é este Quinta do Síbio Arinto Douro 2016, um monocasta feito a partir de uvas brancas colhidas na quinta homónima de Alijó, situada entre a vale Roncão e o planalto de Alijó, no Douro Superior, do qual sobressai a acidez e a frescura características da casta graças, também, ao savoir-faire do viticultor Rui Soares e do enólogo Jorge Moreira. O parceiro ideal para pratos de peixe. Preço: €14,50.
Sem insurgências, celebremos sempre tudo o que há de bom no Mundo
Desçamos até ao Dão e rendamo-nos ao Insurgente tinto 2015 (preço sob consulta), um DOC Dão da Lua Cheia em Vinhas Velhas “fruto” das castas Touriga Nacional e Alfrocheiro. O dueto de tintas tão característico da Região Demarcada, em 1908, da Beira Alta. Talvez seja esta a razão pela qual consiste num vinho adequado para o cabrito assado, prato típico desta região situada no coração do país, mas também para harmonizar com queijo de pasta mole, a recomendação dedicada a queijófilos e a quem tanto aprecia terminar o repasto com este alimentado obtido a partir da coagulação e fermentação do leite. Quem resiste?
Um branco com o sabor do terroir do Dão para acompanhar o cabrito assado, prato tradicional das Beiras
Ainda no Dão, passemos por Nelas. À nossa frente está Caminhos Cruzados Family Edition Reserva branco 2015 feito a partir das castas Encruzado, Malvasia, Bical e Cerceal (assim se escreve esta casta quando nos referimos a esta Região Demarcada) e pelos enólogos Carlos Magalhães e Manuel Vieira. É um vinho demarcado por uma acidez e uma frescura persistentes da empresa familiar Caminhos Cruzados fundada, em 2012, por Paulo Santos, natural da já referida vila do distrito de Viseu, e dirigida pela filha, Lígia Santos, que trocou a advocacia, em Lisboa, pela adega do pai. De volta ao branco, aconselha-se a harmonização com bacalhau assado ou cabrito assado no forno, ou queijos de pasta mole e azuis. Preço: €30.
A conquista dos brancos soma e segue com este reserva da colheita de 2015 de um casal de jovens produtores da Região dos Vinhos de Lisboa
A Região dos Vinhos de Lisboa é a senhora que se segue. Entre o Atlântico e a Serra de Montejunto nasceu o Quinta da Boa Esperança Reserva branco 2015 (preço sob consulta), vinho elaborado com as castas Arinto e Fernão Pires, fermentado em barricas novas de carvalho francês em grão extra fino e battonâge longa (processo que consiste em agitar o vinho que está dentro da barrica com o auxílio de uma vara, para movimentar as leveduras mortas que se depositam na base da pipa). A feitura ficou submetida à orientação da equipa de enologia: Rodrigo Martins (consultor) e Paula Fernandes (residente). A Quinta da Boa Esperança é um projecto recente criado em 2015, em Torres Vedras, por Eva Moura Guedes e Artur Gama e o logótipo da marca é inspirado num elemento antigo da casa.
Com uma nova imagem, eis o novo branco Dom Rafael da centenária Herdade do Mouchão
Viajemos para lá do rio Tejo em direcção à centenária Herdade do Mouchão em Casa Branca, no concelho de Sousel, distrito de Portalegre, no Alto Alentejo, cuja história remonta ao negócio da cortiça ao qual, três gerações depois, foi adicionada a produção de vinhos. Em cima da mesa está Dom Rafael branco 2016, a companhia indicada para o queijo de ovelha semicurado e os mariscos e peixes grelhados, o dueto perfeito para quem gosta de fugir à tradição ou o quiser guardar para outro dia desta época festiva. Na lista de castas deste DOC Alentejo constam a Antão Vaz e a Arinto que lhe conferem um perfil jovem saído “das mãos” do enólogo Paulo Laureano. A propósito, já reparou na nova identidade inscrita na garrafa? Preço: €9,90.
A escolha celestial para a consoada estará neste tinto?
De volta à estrada, a próxima viagem vínica termina em Évora, onde fica a Adega da Cartuxa pertencente à Fundação Eugénio de Almeida, desta vez para dar voz ao Scala Coeli Petit Verdot 2014, Vinho Regional Alentejano cujo nome homenageia a “escada do céu” e se deve ao Mosteiro de Santa Maria de Scala Coeli ou Convento da Cartuxa, onde os monges Cartesianos estão devotos ao silêncio e à oração e, por outro lado, o resultado de um vinho desenhado pelo enólogo Pedro Baptista. Quanto à harmonização celestial, deixamos que experimente e descubra. Preço: €45.
O tinto de talha com a assinatura do enólogo Domingos Soares Franco, da Adega José de Sousa
Terminemos o roteiro à mesa com José de Sousa tinto 2015, Vinho Regional Alentejano proveniente da Adega José de Sousa ou Adega dos Potes, em Reguengos de Monsaraz, fundada em 1878 e adquirida pela emblemática José Maria da Fonseca em 1986. O nome remete para a colecção de 114 ânforas de barro (talhas) que remetem para o legado romano. Já o vinho, engarrafado em Fevereiro de 2017, resulta da junção das castas Grand Noir, Trincadeira e Aragonês, trio de tintas previamente pisadas a pé e desengaçadas manualmente na chamada mesa de ripanço. Na fermentação, uma parte do mosto, das películas e do engaço segue para as talhas, outra vai para lagares, e a sobra é destinada às cubas de inox, seguindo-se a maceração pelicular por quatro semanas acontece e, por fim, o estágio em barricas de carvalho durante nove meses, processo de vinificação e produção feito sob a batuta do enólogo Domingos Soares Franco. Segundo as indicações, é um vinho que fica bem com pratos de carne e queijo. Preço: €7,99.
Bombons de chocolate de leite com cerveja ou com aguardente velha
Para terminar o repasto, o que nos dizem sobre a degustação de bombons de chocolate da Arcádia? A escolha recai em duas variedade. Iniciemos o desafio com a junção dos bombons da octogenária empresa do Porto com a nova cerveja Super Bock Selecção 2017 Thames Porter caracterizada pela intensidade, a cor escura, o malte fumado e caramelizado , o sabor doce e torrado com notas de chocolate e café, com o chocolate de leite da Arcádia (preço: €19,90). Aos amantes de aguardente velha, sugerimos os bombons de chocolate de leite com a aromática aguardente Adega Velha, com notas tostadas de café e frutos secos, as quais são envolvidas pelo aroma suave a madeira (preço: €8,50).
Agora é escolher e confirmar as harmonizações. Desafio aceite?
Feliz Natal! •