É o restaurante do piso térreo do badalado hotel lisboeta, com porta aberta para a Travessa da Portuguesa, para que todos possam saborear os pratos tradicionais de uma carta desenhada pelo chef Bruno Carvalho.
Os croquetes de leitão constam na lista das entradas, mas também são uma óptima sugestão para um almoço de partilha
Croquetes de leitão, pica pau de novilho, moelas à moda de Lisboa, tábua de queijos, tábua de enchidos, bivalve fresco do dia, camarão ao alho e malagueta, prego no bolo do caco ou bifada com o seu molho são as entradas que chegam, de certo, para abrir o apetite ou para partilhar e, deste modo, tornar numa refeição mais leve no Criatura.
A tempura – aqui de caranguejo de casca mole com wakame e pepino – remete para a influência que os missionários da Companhia de Jesus (Padres Jesuítas) portugueses deixaram na cozinha japonesa no século XVI, por altura da Quaresma, período durante o qual tinham de abolir a carne vermelha à mesa, passando por comer vegetais e crustáceos envoltos numa polme fina que, depois, é frita
Desta vez, falamos do restaurante que também tem um bar, do já famoso Verride Palácio Santa Catarina e cujo nome é inspirado no Adamastor poeticamente descrito n’Os Lusíadas do poeta Luís Vaz de Camões e nome do vizinho miradouro lisboeta. Ou não fosse este um espaço onde pratos da carta ditam influências de territórios outrora explorados pelos navegadores portugueses, como a tempura de caranguejo de casca mole com wakame e pepino ou a presença de produtos provenientes do leste asiático, como os que são utilizados no bacalhau confitado com grão e pak choi ou na costela de novilho asiática com polenta e shitake.
“É uma viagem sem que se tenha de sair da cadeira”, diz Bruno Carvalho – também ele chef do Suba, o gastro-bar do Verride Palácio Santa Catarina. Uma cozinha sem fronteiras cuja base é o receituário tradicional transversal às casas portuguesas, como a cataplana Verride, de peixe e marisco, como manda a cartilha da cozinha algarvia, ou a sopa do nosso mar, por exemplo.
O arroz de línguas de bacalhau do chef Bruno Carvalho é “de comer e chorar por mais”
Os arrozes são, por sua vez, uma das grandes paixões do chef nascido no concelho da Figueira da Foz. Para além do arroz cremoso de cogumelos, é de salientar o arroz de línguas de bacalhau, caldoso como se quer e apetrechado q.b. com coentros. A proveniência deste arroz é o Baixo Mondego, mais concretamente de Borda do Campo, localidade da já referida cidade piscatória, onde existem cerca de 30 produtores de arroz, com os quais está a trabalhar, no sentido de impulsionar o incremento da importância de tão nobre matéria-prima.
Das duas saladas à carne, passamos pelo prato vegetariano – legumes assados com requeijão de cabra – e pelo peixe. Neste alinhamento a escolha é feita entre o prato de bacalhau, o “nosso” polvo à lagareiro e o robalo com puré de batata e alho francês. Bem português é também a posta mirandesa com bata frita e grelos, além da já mencionada costela de novilho e da barriga de porco cozinhada a baixa temperatura com cenoura e molho de pimenta.
Entre as sobremesas é de eleger o leite creme para quebrar com a colher e comer sem culpas
Saltemos os cinco acompanhamentos e vamos directos para as sobremesas. Entre o pudim Abade de Priscos com sorbet de laranja, o sempre apatecível leite creme de cumaru e gelado de tomilho-limão, “o nosso bolo de chocolate”, o bebinca (bolo-pudim da cozinha indo-portuguesa) e o refrescante e muito colorido carnaval da Bica (mousse de coco com ananás e maracujá).
A decoração sóbria é determinante num espaço exaltado pela imponência da arquitectura do século XVIII
Tudo em nome de um repasto demorado e aprazível num espaço intimista e decorado a preceito: os tampos das mesas são feitos a partir do soalho em madeira original desta enorme casa outrora residência do Conde de Verride e as cadeiras em veludo conferem um ambiente glamouroso a par com os retratos a preto e branco de reconhecidos nomes das artes. Os rostos foram captados pela lente da fotógrafa inglesa Bridget Jones e com eles participou na abertura do Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, entre Junho e Setembro de 2007.
Para quem os almoços têm de ser mais apressados, o Criatura apresenta um menu executivo que muda todos os meses. Em Março, por exemplo, o arroz de cabidela é servido à terça-feira, o bacalhau espiritual está à sua espera à quarta-feira, enquanto a feijoada deleita os seus apreciadores à quinta-feira e o cozido à portuguesa está guardado para a sexta-feira. A somar tão típicos pratos da nossa cozinha, constam ainda duas opções de peixe ou carne na grelha, as quais mudam todos os dias, conforme a oferta do mercado, bem como as opções vegetarianas.
A mezzanine, com capacidade para 20 lugares, é um espaço privado ideal para quem quer um almoço ou um jantar em família ou entre amigos
Agora é ponderar, escolher e saborear a refeição com a calma merecida, mas não sem antes tomar um aperitivo no bar disposto mesmo à entrada de acesso pela Travessa Portuguesa.
O Criatura está aberto de terça-feira a sábado, entre as 12 e as 00 horas. Bom apetite! •