Quando as provas vínicas são “feitas” de castas renascidas / Fitapreta

Sem cronómetro nem pressas, a empresa de produção vitivinícola de António Maçanita instalada no Paço do Morgado de Oliveira, propriedade localizada às portas de Évora, promete um dia bem passado no coração do Alentejo, região sinónimo de vagar. 


O portão em ferro abre-se para a propriedade de 120 hectares atravessada por uma estrada acompanhada pela vinha e pela flora autóctone predominada por oliveiras e freixos. O trajecto dá acesso ao Paço do Morgado de Oliveira, edifício do século XIV, localizado em Nossa Senhora da Graça do Divor, no concelho de Évora e complementado, 700 anos mais tarde, pela construção da nova adega da Fitapreta. Esta é projectada pelo arquitecto Tiago Sobral, já depois da aquisição de 87 por cento da propriedade, em 2016, por parte da empresa vitivinícola do produtor e enólogo António Maçanita em sociedade com Sandra Sárria, Directora de Produção na adega. Os restantes 13 por cento pertencem, ainda, à família Saldanha.


Concebido de acordo com a morfologia do terreno e revestido com placas em cortiça, o novo edifício tem o enquadramento perfeito na paisagem rústica da propriedade. A parede envidraçada do Bar, espaço das boas-vindas a enófilos e curiosos no que ao mundo vínico diz respeito, reflectem a transparência da empresa e o à-vontade para com os visitantes. Em boa verdade, pode querer degustar apenas um copo de vinho enquanto observa calmamente as garrafas dispostas neste bar que também é loja. Já que o tempo é aliado por estas terras além (do rio) Tejo, há lugar para saber mais sobre os rótulos que acicatam a curiosidade enquanto faz a prova de três a oito referências. E não são poucos! 

O certo é que António Maçanita, nascido em Lisboa, é mestre na escolha da imagem para cada referência vínica tendo em conta as castas trabalhadas pela equipa da Fitapreta. Mais ainda: o produtor e enólogo está no bom caminho no que diz respeito à recuperação de variedades de uvas caídas em desuso e, consequentemente, condenadas à extinção. São disso prova muitas das castas plantadas em vinhas próprias – 30 hectares em Graça do Divor, junto ao Paço do Morgado de Oliveira, e 20 com mais de meio século de existência, no sopé da Serra d’Ossa – e nos 20 hectares de vinhedo arrendado. Exemplo disso são o field blend constituído por Rabo de Ovelha, Tamarez, entre outras variedades de uva branca, na vinha de Borba, Alicante Branco e a Trincadeira-das-Pratas, ou o Moreto, a Tinta Carvalha e a Baga, nas tintas. É de salientar, ainda, que todas as vinhas estão em regime de agricultura biológica e as castas são sempre vindimadas à mão.


Regressemos ao Bar para mais provas vínicas. Aliás, se estas forem complementadas com a visita aos cantos da casa, é indispensável a marcação prévia. “Kiss & Fly” (45 minutos) é o nome da visita e prova mais curtas em que a acção termina com a degustação de duas referências acompanhadas por um petisco. Aos que preferem ver aprofundada a narrativa sobre a Fitapreta é recomendada a “Big Picture” (90 minutos), que culmina com a degustação de cinco vinhos feita na companhia de uma tábua de queijos.


A experiência “Yes I’m a Wine Geek!” 120 minutos) vai mais longe, uma vez que é feita quase sem limites, com a inclusão de amostras e uma degustação personalizada. Masterclass “António Maçanita Style” (180 minutos) é a estreia de 2021 e o verdadeiro desafio destinado a quem está apto a experimentar 12 vinhos com a equipa de enologia e, claro, também com visita incluída.


Independentemente da escolha, é de conhecer o percurso profissional de António Maçanita e a história da Fitapreta iniciada a par com o viticultor britânico, David Booth, e que foi evoluindo – tal e qual um bom vinho – após um jantar de família em que ambos se conheceram. A visita estende-se à adega instalada no edifício mais recente concebida para a recepção das uvas, previamente vindimada à mão e seleccionada a rigor, e destinada à vinificação dos vinhos tintos e de talha da Fitapreta.

Os brancos são conduzidos, através de tubagens subterrâneas, para a adega implementada no piso térreo do edifício mais antigo da propriedade. Para manter a traça dos interiores do solar, foram feitas cubas com base em medidas especiais. As barricas em madeira estão, por sua vez, alinhadas em duas filas laterais na vetusta capela contígua a uma das salas de prova, onde a experiência viníca inclui uma harmonização gastronómica com produtos alentejanos ou uma refeição que pode ter lugar, igualmente, ao ar livre sob o toldo montado entre os dois edifícios. 


Na lista de novidades constam, também, os workshops “Iniciação à prova”, constituído pelos módulos 1, 2 e 3 e almoço, para grupos entre quatro a dez pessoas. Se o sonho a concretizar é ser “Enólogo por um dia” basta reservar 180 minutos de uma data a combinar e realizar esse desejo. O “Workshop de Culinária & Harmonização” é outra das boas novas, desta feita, sob o lema “da horta à mesa” destinada a grupos entre quatro a dez pessoas. Some-se o catering, que vai do buffet, com três vinhos, aos dois serviços de pratos acompanhados ou por quatro, ou por seis vinhos.


Ainda no âmbito das actividades de enoturismo, a Fitapreta tem à disposição quatro iniciativas sazonais. Além dos programas de vindimas – 1 com actividades na adega e almoço de degustação; e 2 com transfer desde o hotel, vindima manual e as acções referidas no anterior –, há o piquenique com sortido de petiscos e duas garrafas de vinho. O “Wine under a tree” é outra das sugestões a ponderar. Como o próprio nome indica, este tem lugar à sombra de uma frondosa árvore, onde não faltam as comodidades idealizadas pelo casal que queira desfrutar de uma manhã ou de uma tarde serena em plena natureza, na companhia de petiscos e uma garrafa de vinho Fitapreta, empresa que deu os primeiros passos no começo do século XXI quando António Maçanita aceita o desafio de David Booth em fazer um vinho a dois. O resultado foi o Preta 2004, vinificado na Herdade da Malhadinha Nova, em Albernoa, no concelho de Beja, reconhecido no Internacional Wine Challenge com o Trophy Alentejo.

Desde então, o enólogo nascido em Lisboa, empreendedor, imparável, sério e inovador, nunca mais parou ou não fossem as actividades ao ar livre outras das sugestões, como ciclismo, equitação, balonismo e peddy-papper, pintura, concertos…

É agendar através de enoturismo@fitapreta.com ou do (+351) 918 267 220 e ir, para descobrir!

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© Fotografia: João Pedro Rato

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