Dahlia, a volta ao mundo com produtos da estação

O n.º 13 da Travessa do Carvalho, em Lisboa, tem, agora, um restaurante que nos leva a viajar, à boleia da criatividade de Gabriel Rivera e Vítor Oliveira. Acompanhe com um cocktail de Rony Hernandez ou um vinho natural da carta e deixe-se levar pela (muito) boa música.

As centenas de vinis, dispostos atrás do balcão do Dahlia, não passam despercebidos assim que se entra neste restaurante aberto desde 20 de Julho de 2021. Ao lado, em baixo, o gira-discos toca o vinil até ao final e a capa do disco do momento é exposta no balcão. “Ouve-se um disco do princípio ao fim. É como uma viagem”, diz-nos Adam Purnell, gerente do restaurante, que veio de Berlim, na Alemanha, para Lisboa, a convite de David Wolstencroft, um dos quatro sócios do Dahlia e o grande coleccionador de vinis. 

Kaffir Sour, para gulosos, Grilled Pineapple Smash, se aprecia sabor fumado, e o poderoso Mescal Negroni

A música é o epicentro deste espaço intimista e a companhia ideal para os cocktails. Há seis e todos são feitos pelo mixologista Rony Hernandez. Vale a experiência, mas importa dar a conhecer os seus gostos, para começar bem a refeição.

Vamos à partilha? A ideia é mesmo essa: repartir cada prato em boa companhia. Há pratos vegetarianos, também disponíveis na versão vegan, peixe e carne. E, se preferir, peça um vinho. São todos naturais e a diversidade abrange espumantes, brancos, orange, rosés e tintos, e vão desde os portugueses aos da Nova Zelândia e da Austrália, outra volta ao mundo, para harmonizar com as inspirações culinárias de ambos os chefs.

Beterraba curada, laranja e vinagrete de pistácios é um dos pratos vegetarianos da carta e veio acompanhada com pão estilo cracker

Na cozinha, Gabriel Rivera, da Guatemala, e, Vítor Oliveira, do Brasil, levam a imaginação ao mais alto nível, no que à conjugação de sabores diz respeito, também ela inusitada. Aliás, ambos têm “uma dinâmica da alta cozinha”, nas palavras de Vítor Oliveira, que veio “de uma carreira consolidada em São Paulo”, para Portugal. Porém, continua a preferir “as referências das nossas avós”

Já Gabriel Rivera passou pelo Noma, em Copenhaga, na Dinamarca, e pelo 100 Maneiras, em Lisboa, mas confessa: “tenho, agora, mais espaço para a criatividade.” A abordagem culinária baseia-se nos produtos da estação – os legumes são comprados no Mercado da Ribeira; o peixe e os mariscos são maioritariamente provenientes dos Açores; o talho já é outro. “Já conhecia produtos e fornecedores, o que acaba por facilitar este trabalho”, afirma o che guatemalteco.

Cogumelos, milho e dashi

Na cozinha, a dinâmica passa muito pelo aproveitamento, como é o caso do kimchi, feito a partir das partes “menos nobres” da couve e ingrediente muito utilizado na cozinha coreana, que, no Dahlia, faz parte dos prato de couve-flor caramelizada e cacau, bem como de camarão selado e chili bisque. Uma dupla que convém estar à prova – o primeiro, pela invulgar combinação do cacau com os outros dois ingredientes, mas que resulta num aperitivo delicioso; e o segundo, em que é um bom teste para quem gosta muito de picante.

O delicioso arroz de abóbora e cogumelos desidratados

“Todos os molhos e fermentados são feitos aqui”, assegura Gabriel Rivera, bem como as demais experiências, como a que fizeram com limão negro, servido no arroz de abóbora e cogumelos – boletus e trompetas da morte – desidratados, uma espécie de risotto muito bem confeccionado. “Ainda estamos numa fase experimental”, ou não tivesse o Dahlia apenas cinco meses, mas “cada ingrediente sabe ao que é”, garante Vítor Oliveira.

O peixe do dia (em destaque), o frango frito, com molho picante (atrás) e Rebuscado branco de Maceração 2018, um vinho feito a partir da casta Gouveio e produzido por Folias de Baco, do Douro

É de enaltecer a beterraba curada, laranja – para atenuar o sabor “a terra” da raiz – e vinagrete de pistácios, a pedir no início da refeição. O peixe do dia é outra opção a ter em conta – desta feita, coube a vez à cavala com beterraba e daikon, uma espécie de rabanete, com um sabor mais suave do que o rabanete convencional (é mais picante). O frango frito servido com molho picante da casa, é uma sugestão a ponderar.

Chocolate tahini, banana e crumble, uma combinação infalível

Para terminar, ficam as duas sobremesas da carta: chocolate tahini, banana e crumble e tapioca com ameixa e avelãs. Qualquer uma é pouco doce, o que convence – asseguramos – mesmo os mais gulosos, apesar da primeira encher as medidas, de longe, pelo sabor. E agora? Deixe-se levar pela muito boa música ou aguarde por 29 de Dezembro, já que o Dahlia, que só abre a partir das 18h30, fecha temporariamente as suas portas entre 18 a 28 deste mês.

Bom apetite. É ir!


+ Dahlia
© Fotografia: João Pedro Rato
Legenda da foto de entrada: Rony Hernandez e Adam Purnell

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