A primazia dos produtos nacionais é a boa nova do restaurante com a assinatura do chef alemão, no Conrad Algarve. Sem esquecer a escolha criteriosa de cada ingrediente e a confecção cuidada, quase laboratorial, de cada prato.
A forma como o organismo humano se comporta face a cada alimento, à confecção de cada ingrediente, à conjugação do todo num só prato, é uma preocupação constante do chef que, há uma década, deu o seu nome ao restaurante de fine dining do Conrad Algarve, hotel localizado em Almancil, terras algarvias. Chama-se Heinz Beck, é alemão e, na adolescência, queria dedicar-se à pintura. Tamanha sensibilidade para as artes reflecte-se em cada prato saído da cozinha aberta para a sala do Gusto by Heinz Beck. Desde a apresentação à conjugação de sabores.
A prova está no novo menu de degustação primaveril do Gusto by Heinz Beck (uma estrela Michelin). Além da importância atribuída aos produtos portugueses, o chef Heinz Beck, que tem Liborio Buonocore como o seu braço direito na cozinha do restaurante de fine dining do Conrad Algarve, abre caminho aos ingredientes preferencialmente orgânicos, ou seja, aqueles cuja produção combina as boas práticas ambientais com a protecção dos recursos naturais. O porco alentejano e o borrego, duas estrelas do alinhamento, têm origem alentejana.
Algarve e norte são os principais pontos de partida de hortícolas e de fruta, que entra na cozinha do restaurante. Sempre com ênfase “na procura de pequenos produtores”, que, para Heinz Beck, é uma forma de contribuir para “o futuro de todos nós”. Quanto ao peixe, Sagres e Peniche ocupam os lugares de preferência, mediante a disponibilidade e variedade. Quanto à vitela, esta provém dos Países Baixos. Porquê? Porque qualidade é a palavra que mais se ouve do léxico do chef Heinz Beck.
Sem mais delongas, é chegado o momento das apresentações, com o tártaro de lírio com creme de ruibarbo e morangos silvestres. Entrada arrojada para o menu de degustação, como se de uma provocação se tratasse, ou talvez uma forma de despertar a curiosidade de quem escolhe este alinhamento primaveril à mesa do Gusto by Heinz Beck. Mas como bem diz o chef, há todo um trabalho de equipa a ter em conta, incluíndo da escançã do Gusto by Heinz Beck, Emília Craveiro, que elegeu Calafuria rosé 2021, um vinho da região italiana de Puglia, para iniciar a harmonização.
Vieira, raízes de cerefólio (semelhante à salsa), chicória e trufa negra é outra das conjugações estranhas ao ouvido, mas que remetem para a delicadeza logo à primeira. A ligação inesperada entre os ingredientes está alinhada com a perfeição, subtileza destacada com a escolha de Expressões Sommelier Edition branco 2017, vinho feito pela dupla Anselmo Mendes, reconhecido enólogo da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, e o escanção Miguel Martins, que fora, em tempos, responsável pela escolha dos vinhos do Gusto by Heinz Beck.
A simplicidade é sublimada novamente com espargos brancos, cogumelos e béarnaise (molho originalmente feito à base de manteiga clarificada e emulsionada em gema de ovo e vinagre de vinho branco) confeccionado, neste caso, com azeite extra virgem. Face esta complexidade de sabores, Emília Craveiro optou por Tira o Véu branco 2019, uma edição limitada de Susan Esteban, feita a partir de uma mistura de castas da Serra de São Mamede, no distrito de Portalegre, região vitivinícola do Alentejo, e, acima de tudo, um vinho que, graças à acidez, complexidade e nuances cítricas, esteve à altura do molho béarnaise, sem suplantar o sabor dos espargos.
Tortellini recheado de ervilhas e limão, com frutos do mar, choco e nduja (enchido picante italiano) espelha a paixão de Heinz Beck pela comida italiana, a delicadeza com que a confecciona e a facilidade com que equilibra os ingredientes, no sentido de evitar sobreposições. A acidez e a frescura de Valle Pradinhos Reserva branco 2020, vinho de Trás-os-Montes, esteve à altura dos sabores marinhos e das ervilhas, envoltos pelos tortellini.
Dos sabores italianos, Heinz Beck e a equipa do Gusto passam para o lagostim marinado com alcachofras e favas, em caldo de cebola, uma combinação entre mar e terra, harmonizada com Luís Pato Vinha Formal branco 2003. Aqui, a sensação de salinidade equilibrada e acidez apurada mostrou o potencial da casta Bical e, ao mesmo tempo, elevou os sabores do lagostim e das alcachofras, bem como das favas, prato que fez jus à imersão culinária na cozinha de Heinz Beck.
Novamente no oceano, com o pregado a ter os brócolos selvagens e a roseira brava como pares incondicionais de um bailado inesperado nas papilas degustativas. O par? Niepoort Charme tinto 2017, vinho feito a partir de uvas colhidas em vinhas velhas localizadas em Vale Mendiz, no Pinhão, na Região Demarcada do Douro.
Uma escolha certeira de Emília Craveiro, que prefere dar primazia ao serviço personalizado, quando é possível. “É o único luxo que podemos ter”, afirma a escançã sobre o seu trabalho no restaurante.
Sela de borrego em acelga, cenouras e especiarias, tendo tido, estas últimas, um contributo importante neste conjunto, a par com as acelgas e o sabor do borrego. Definitivamente, um prato que “pede” um tinto como Arvad Reserva tinto 2019, vinho cujas castas conferem especiarias, entre outros atributos, que conciliam com o todo.
Para terminar, Heinz Beck, Liborio Buonocore determinam, como sobremesa, a tarte de framboesa com gelado de caramelo, sendo, este último, o elo de ligação com DSF Colecção Privada Moscatel Roxo 2001, vinho da José Maria da Fonseca, com produção na Região Demarcada da Península de Setúbal.
Todo este trabalho é, hoje, o somatório de uma vida longa dedicada à cozinha e, simultaneamente, à investigação ligada à comida saudável – ou não – para o ser humano, estudo que se reverte na prática diária do chef Heinz Beck, a experimentar no Gusto by Heinz Beck, no Conrad Algarve, o cinco estrelas erguido à semelhança da magnitude de uma mesquita, ou não tivesse sido esta região do Sul do país amplamente influenciada, séculos a fio, pelos muçulmanos.
É ir! Bom apetite!