Brinda-se aos 50 anos do 25 de abril! O momento teve lugar entre paredes centenárias, que remontam à época da monarquia. Paradoxo? Não! São os sinais do tempo neste mundo em constante mudança, que em nada se sobrepõem a vinhos tão longevos.
“No dia 25 de abril de 1974, foram-me buscar à escola. Nesse dia, descobri que na parte de trás do edifício havia a escola das meninas.” A recordação de tão especial data é recordada por Manuel Pinheiro, CEO da Global Wines, empresa detentora da Casa de Santar Vinhos, marca com mais de 200 anos de história, situada em Santar, freguesia do concelho de Nelas. Estas palavras mostram quão inesperada era a realidade de então, a mesmo que, actualmente, seria inimaginável. Eis o motivo para um brinde muito especial na Adega Casa de Santar, espaço datado dos tempos da coroa portuguesa e construído em granito extraído das formações rochosas profícuas na região vitivinícola do Dão.
Na cave de vinhos da Casa de Santar, os anos de colheita começam em 1955, uma verdadeira viagem no tempo. Paulo Prior, actual director de enologia da Global Wines, retira três garrafas de tinto da colheita de 1974. São fiel blends, designação atribuída a vinhos feitos a partir da mistura de castas brancas e tintas, uma vez que, à época, o encepamento misto era prática comum no mundo vitivinícola nacional.
A técnica de desengaço não estava implementada, isto é, os vinhos eram de curtimenta, o que permitia uma maior extracção de taninos e, naturalmente, de mais cor. “O vinho era feito em lagar, com pisa a pé. Só havia cubas de cimento e os tonéis”, revela Aurélio Claro. O director de viticultura da Global Wines faz referência ainda às cubas argelinas, onde as remontagens eram feitas através da pressão criada pela libertação de dióxido de carbono. Hoje, são as cubas de inox que substituem este equipamento na Adega Casa de Santar, recentemente remodelada.
Como seria de esperar, cada um dos três vinhos da colheita de 1974 evidenciaram diferenças entre si. Da primeira sai a conquista dos presentes; sobre a segunda, houve quem deixasse escapar “um grande vinho”; acerca da terceira, a frescura e a acidez surpreendem todos, bem como a complexidade e a elegância demonstrada à medida em que fica no copo. Conclusão? Unanimemente, o terceiro vinho ficou registado como o melhor deste trio, comprovando o potencial da região do Dão em longevidade.
A Casa de Santar Vinhos detém 103 hectares de vinha ocupada, sobretudo, pelas castas Touriga Nacional (uva tinta) e Encruzado (uva branca) – ao contrário do que havia no passado, tempos em que a variedade de uva tinta Baga era profícua no vinhedo da Casa de Santar. A maioria da vinha está, desde este ano de 2024, em produção integrada, modo de produção sustentável compatível com a gestão dos recursos naturais – flora e fauna. Destaque-se a icónica Vinha dos Amores, que preserva o emblemático e centenário sobreiro, lugar de eleição do almoço-piquenique, ideal para um momento a dois ou o convívio entre amigos enófilos, no âmbito das actividades de enoturismo. Disponíveis estão também passeios a pé ou de jipe à vinha, seguidos de provas de vinhos, com a possibilidade de integrar produtos regionais na harmonização. A experiência pode terminar no restaurante Paços do Cunhas – na posse da Global Wines desde 2002, com 20 hectares de vinha, dos quais sete fazem parte da emblemática Vinha do Contador –, localizado na vila de Santar, cuja acção culinária está nas mãos do chef Alberto Correia.
Brindemos!