Está aberta desde Janeiro deste ano, em Alenquer, e aposta forte no enoturismo. É a montra da produção vínica da Cas’Amaro e espaço versátil, onde a boa comida se partilha de copo na mão.

Do início da EN 9 até aos números 17 e 19 do lugar da Mata, no concelho de Alenquer, são cerca de oito quilómetros. Outrora uma adega é, hoje, a Cas’Amaro Wine Shop & Bar casa, isto é, um restaurante com bar de vinhos e um espaço intimista para provas de vinhos da Cas’Amaro, projecto vitivinícola iniciado em 2016, na região dos Vinhos de Lisboa.
“Adquiri este espaço há seis ou sete anos”, começa por contar Paulo Amaro, o proprietário e produtor de vinhos, que compara este espaço de enoturismo com os do Vale do Loire, região situada no sudoeste de Paris, em França. “Aqui as pessoas podem parar na estrada sem terem de ir aos châteaux”. A finalidade aqui estabelecida é “democratizar as experiências, sem que as pessoas tenham de ter uma experiência formal, como fazem nas quintas das famílias”, explica.
“Somos um espaço de gastronomia. Somos um espaço de vinhos. Somos uma espaço de enoturismo”, com esplanada. As palavras são de Rui Costa, director-geral da Cas’Amaro, que, deste modo, resume a essência da Cas’Amaro Wine Shop & Bar, aberta desde janeiro deste ano, a par com o entusiasmo que lhe é bem conhecido no que toca a cozinhar, provar bons vinhos e receber pessoas.
A escolha do chef Duarte Marçal também esteve nas mãos de Rui Costa. “É um jovem do concelho de Alenquer, nascido a poucos quilómetros do próprio restaurante e bar”. Neste espaço entram em cena “os melhores sabores da cozinha tradicional portuguesa apresentados numa versão mais requintada, mas sem os desvarios desregrados do fine-dining”, sublinha o director-geral da Cas’Amaro. Sem pôr de parte a responsabilidade associada à harmonização feita com os vinhos Cas’Amaro produzidos nas regiões de Lisboa, Dão, Alentejo, Douro e Vinhos Verdes.
A lula glaceada e o coelho à Madame Pió

Da cozinha, instalada num depósito de cimento, saem pratos para todos os gostos. Os queijos e os enchidos não podem faltar, sobretudo para quem prefere desbravar o conhecimento vínico do portefólio da Cas’Amaro. Camarão com alho, pica pau de novilho e prego do lombo em bolo do caco são uma parte da secção “Dos clássicos”, que podem pôr um ponto final na refeição.

Para quem não quer ficar por aqui, faça-se a partilha da lula glaceada com manteiga montada, lima e cebolinho, prato a que foi atribuída a designação de clássico da Cas’Amaro Wine Shop & Bar. Acrescente-se as lascas de bacalhau com texturas de grão, para os saudosistas.

Tentáculos de polvo, puré de pimentos, tomate e coentros é outro dos prato a registar, assim como o coelho à Madame Pió, criado em homenagem à mãe de Paulo Amaro, à semelhança do rótulo do Madame Pió Reserva branco 2021, por exemplo, a provar neste espaço. O desfecho bem pode ficar pelo pastel de nata desconstruído, tributo feito ao emblemático pastel que simboliza a capital do país, que empresta o nome a esta região vitivinícola.
Ementa à parte, há espaço para “jantares temáticos, cursos de vinhos, provas de harmonização de vinhos e gastronomia, fins-de-semana temáticos, provas verticais de grandes produtores nacionais e internacionais, masterclasses de vinhos generosos e programas de cozinha e vinhos”, acrescenta Rui Costa, em nome do enoturismo, actividade complementada com a visita à adega, que está do outro lado da rua, onde o protagonismo é direcionado aos enólogos Ricardo Santos (nome indissociável da Adega XXVI Talhas, em Vila Alva) e Gilberto Marques.
Arquitectura, arte e design

À paixão pela arquitectura, testemunhada pelo desvelo associado à reabilitação do edifício da Cas’Amaro Wine Shop & Bar, Paulo Amaro soma quadros e telas de jovens artistas portugueses. Gabriela Albergaria, Rui Calçada Bastos, Paulo Brighenti, Pedro Batista, Nuno Viegas, Sérgio Fernandes e fotografia de Tito Mouraz e João Paulo Serafim são nomes que estão dispostos nas paredes deste pequeno museu situado à beira da EN 9. O design é outra das vertentes aqui exploradas através das peças de mobiliário de época, como os sofás nórdicos da década de 1980 ou as cadeiras Olaio, fundada ainda em 1886.
O zelo associado à decoração é semelhante ao que ocorreu na Wine Villa Cas’Amaro. Esta casa enorme resulta da reabilitação da adega desta propriedade localizada a escassos quilómetros do centro da Aldeia Galega da Merceana, em Alenquer, projecto de arquitectura assinado por José Martínez Silva. É a primeira propriedade vitivinícola de Paulo Amaro, com cinco hectares de vinha ocupada apenas por castas tradicionais da região dos Vinhos de Lisboa: Arinto, Fernão Pires, Sercial e Rabo de Ovelha, nas brancas; Bastardo, Tinta Miúda e Camarate, nas tintas.
“A parcela maior é a do Bastardo, porque queria um vinho leve para um wine bar” e teve a consultoria do produtor e enólogo Tiago Teles. A vinha está em modo de produção biológico. “Também temos uma parcela de Castelão. É uma vinha velha em Vale de Riacho, que estamos a explorar. Para o ano, vamos ter o nosso primeiro Castelão da colheita de 2023”, revela. Próximo da Serra de Montejunto, possui seis hectares de Vital, Galego Dourado e Touriga Nacional.
De Lisboa para outras regiões do país

Este investimento na vinha e no vinho resulta de uma viagem que Paulo Amaro fez há cerca de 20 anos, à Nova Zelândia. “Encontrei uns projectos de uns produtores de vinhos extraordinários. Gostei muito do enoturismo desenvolvido por estes neozelandeses, perto de Auckland.” A vertente do enoturismo está na génese de roteiros feitos em África do Sul, na Austrália, entre outros destinos espalhados pelo mundo, numa época em Portugal estava começar a dar os primeiros passos nesta vertente do turismo.
Chegada a hora de investir no mundo vitivinícola, o proprietário da Cas’Amaro decide procurar uma propriedade próxima de Lisboa, onde reside. “Ao lado da Quinta do Pinto encontrei um enquadramento paisagístico extraordinário. Comprei a que é hoje a Cas’Amaro e este espaço. Assim, consegui finalmente fazer a ponte entre a restauração, o vinho e a adega”, com a mais-valia da região dos Vinhos de Lisboa beneficiar com a proximidade do turismo, bem como “a influência atlântica, que, afinal só traz vantagens para os vinhos”, continua o proprietário. Sobre Alenquer, vila situada às portas de Lisboa, Rui Costa reforça que “tem tentado afirmar-se como um destino enoturístico de eleição”.
Dentro da Cas’Amaro é de contar com outras quatro regiões vitivinícolas do país. “Em todas elas pretendemos fazer boutique hotéis. No Dão e na região dos Vinhos Verdes há um solar que vamos reabilitar. No Douro, vamos fazer um hotel de raiz em Armamar, muito próximo do Rio Douro, com o arquitecto Carlos Castanheira. Em Estremoz, a casa está a ser reabilitada, para ser um pequeno boutique hotel, com 15 ou 16 quartos”, adianta Paulo Amaro.
À excepção da propriedade do Alentejo, as propriedades do Dão, do Douro e dos Vinhos Verdes terão restaurante, cujo foco é a comida tradicional. Some-se o Orquídea, espaço de restauração igualmente descontraído, na Rua da Madalena, em Lisboa, onde os apreciadores de vinho são convidados a conhecer a Cas’Amaro Wine Shop & Bar (encerra à terça-feira). “Acho que é o enoturismo que vai valorizar a marca do turismo português”, remata o proprietário da Cas’Amaro.