Muitas das novas colheitas denotam um potencial extraordinário, isto é, comprovam que valem a pena ser guardadas por mais tempo. A opinião é extensível a alguns provadores, que fazem mea culpa depois de cumprirem a função à qual estão destinados. O lado bom desta missão? Deixar aqui recomendações e saudações vínicas para a presente época estival.
Vinhos Verdes
Da Quinta da Carvalheira, em Paderne, freguesia de Melgaço, localizada na sub-região de Monção e Melgaço, pertencente à região Demarcada dos Vinhos Verdes, eis um clássico: Dona Paterna Alvarinho 2022 (preço sob consulta). A frescura e a mineralidade vivas enaltecem a acidez da casta rainha da região no copo. Estas características são consequência da influência atlântica e da humidade constantes, bem como da temperatura amena, sem grandes interferências da exposição solar. Ao mesmo tempo, combinam na perfeição com um prato de marisco assaz apetecível nesta estação do ano, desde que servido a 10 °C. É de relembrar que a Dona Paterna surgiu em 1990, graças a Carlos Alberto Condessa, o rosto deste projecto familiar e que, desde 1974, se dedica à viticultura.
+ Alvarinho Dona Paterna
Douro
Gouveio, Viosinho, Arinto e Rabigato constituem o lote do Casa Velha Grande Reserva branco 2021 (€15). Este vinho, da Adega de Favaios, localizada em Vilarelho, no concelho de Alijó, que faz parte do Alto Douro Vinhateiro, apresenta toda a frescura deste quarteto de castas brancas, a par com a intensidade equilibrada dos aromas de cada uma, apesar da predominância, em percentagem, das duas primeiras. Na boca, ganha pela secura q.b., já que este factor contribui para a diminuição da exuberância das variedades de uva acima referidas. Da colheita do ano passado, eis o Casa Velha Samarrinho 2023 (€11,50), feito a partir da referida casta branca muito comum no Alto Douro Vinhateiro, da qual se destaca a delicadeza, a frescura, mineralidade, final longo e persistente. Sirva entre os 8 °C e os 10 °C com peixe grelhado, outro prato indispensável no verão.
+ Adega de Favaios
Da bicentenária Quinta da Côrte é de destacar o Côrte branco 2023 (€23,40). Esta referência vínica é feita a partir da casta Viosinho vindimada numa parcela situada a 700 metros de altitude desta propriedade vitivinícola localizada em Valença do Douro, no concelho de Tabuaço, pertença do grupo familiar francês Vignobles Autruy. As delicadas nuances florais, no nariz, complementam-se com a acidez equilibrada desta nova colheita. À mesa, este branco faz companhia a queijos curados, para começar, seguidos de um peixe servido com legumes grelhados. Ou, se preferir, rume à quinta, para desfrutar das experiências de enoturismo de que dispõe, como o alojamento e a visita às adegas, com a assinatura do aquitecto e designer francês Pierre Yovanovithc.
+ Quinta da Côrte
Bertelo é o nome da parcela da tricentenária Quinta do Pontão da Cumieira, em Santa Marta de Penaguião, localizada na sub-região do Baixo Corgo, na região Demarcada do Douro Superior. E também é nome de um vinho, o H.O Bertelo branco 2022 (€45), da H.O Wines, designação atribuída às referências vínicas da outrora Horta Osório Wines, adquirida em 2021 pela Menin Wine Company. Aqui, a casta Viosinho está em maioria em relação à Rabigato, à Gouveio e à Arinto. No copo, esta colheita denota a complexidade conferida pelo estágio em barrica, perfeitamente integrada, deixando brilhar as característica da variedade de uva, bem conhecida pelo seu potencial de envelhecimento em garrafa.
+ H.O Wines
CV – Curriculum Vitae branco 2021 (preço sob consulta) é a 6.ª edição desta referência vínica da Van Zellers & Co, de Cristiano, Joana e dos filhos Francisca, Cristiano e João. É um field blend das castas Samarrinho, Donzelinho Branco, Viosinho, Códega, entre outras variedades de uva identificadas na vinha velha, com cerca de 70 anos e menos de um hectare de área, a Vinha da Fonte da Gafa, na sub-região do Douro Superior. A localização próxima de Murça, já em montanha, longe da convergência dos rios Tua e Douro, mas bem perto da , indicia o benefício do vento e das noites frias. Frescura é um dos atributos deste vinho, assim como a elegância e o potencial de guarda. Se beber agora, sirva a 10 °C, com tártaro de novilho.
+ Van Zellers & Co
Lembre-se que já passaram quase sete anos desde as vindimas de 2017. Portanto, ponha de parte os aromas exuberantes da casta Riesling. Deixe-se levar pelo toque apetrolado, que esta variedade de uva branca de origem alemã ganha com a passagem do tempo, a somar à frescura, à acidez e à mineralidade, e com superlativa complexidade. Trata-se do Bagos Riesling 2017 (preço sob consulta), que marcou o início da Bagos no portefólio da Lavradores de Feitoria, projecto que, actualmente, reúne 19 quintas pelas três sub-regiões do Douro. Do copo para o prato, pensemos em queijos curados de forte intensidade e comida condimentada. Sirva entre os 8 °C e os 10 °C.
+ Lavradores de Feitoria
Burmester Ensaio n.º 01 branco 2023 (€10) marca a estreia de uma linha mais experimentalista da marca centenária pertencente ao portefólio da Sogevinus. É feito a partir de um lote de duas variedades de uva bem diferentes: Alvarinho e Sercial. Estas são vindimadas na Quinta do Arnozelo, localizada entre São João da Pesqueira e Vila Nova de Foz Côa, respectivamente, nas sub-regiões do Baixo Corgo e do Douro Superior. Ensaios à parte, este branco rima com a época estival, graças à frescura e à mineralidade. O final de boca é longo e denota a complexidade do vinho. Partilhe com bacalhau assado ou pratos de cozinha japonesa. No copo deve estar nos 10 °C.
+ Sogevinus
Douro + Dão + Alentejo
Aproveitemos a transição para a união de três regiões demarcadas. Em cima da mesa está o trio Great Whites (€100), os tubarões-brancos… Perdão! Um trio de brancos da Rocim: Bela Luz, do Douro (€27,90), O Estrangeiro (preço sob consulta), do Dão, e Clay Aged (preço sob consulta), do Alentejo. Todos da colheita de 2022. A ideia é proporcionar experiências vínicas diferentes, embora também haja a possibilidade de serem comprados separadamente. O primeiro é feito a partir de uvas colhidas em vinhas velhas localizadas na sub-região do Cima Corgo, traduz-se na estreia da Rocim na Região Demarcada do Douro, com o epicentro da sub-região do Cima Corgo, e define-se pela frescura e a tropicalidade na boca. O segundo também é feito a partir de um field blend de vinhas velhas de Nelas, na sub-região de Senhorim, no Dão, e demarca-se pela mineralidade, pela frescura e pela acidez. O terceiro traduz-se num lote composto pelas castas Verdelho, Viosinho e Alvarinho vindimadas na Herdade do Rocim, localizada no concelho de Cuba, pertencente à sub-região da Vidigueira, na região do Alentejo, e caracteriza-se pela frescura, pela acidez e pela secura.
+ Rocim
Alentejo
A Maionova, compromisso vitivinícola de Bárbara Monteiro, a mais nova da família, apresenta dois brancos que vale a pena guardar. Ambos homenageiam o Moinante, o cão da Herdade Monte da Fonte, situada no Vimieiro, Arraiolos, que, segundo consta, gostava de “anda na moina” durante a noite. O primeiro é o Moinante Curtimenta branco 2023 (€18,50), feito a partir das castas Antão Vaz, Arinto, Verdelho e Encruzado, as quais foram submetidas a estágio em inox, processo que enalteceu as características de cada variedade de uva. Frescura, acidez e sensação de mineralidade são as características enaltecidas no copo. Os mesmos atributos aplicam-se ao Moinante Dupla Curtimenta branco 2023 (preço sob consulta), apesar de se tratar de um vinho com mais tensão e maior persistência na boca, motivo pelo qual se recomenda a guarda do mesmo por mais tempo. É de experimentar com uma caldeirada.
+ Mainova
O Invisível branco (€14), da Ervideira – projecto familiar representado pela quarta e quinta gerações da família Leal da Costa –, já vai na 15.ª edição. É um blanc de noir feito a partir da casta Aragonez vindimada em Agosto, de modo a obter um vinho com maior acidez. A este adicionam-se uvas da mesma variedade, mas com características diferentes – umas com uma base mais frutas e outras mais estruturadas. Esta combinação atribui uma certa complexidade a este branco elaborado com uma variedade de uva tinta. Elegância e frescura são as notas de prova a somar à anterior, o que torna este vinho mais versátil à mesa, já que rima com pratos da culinária asiática, bem como com um peixe grelhado, ou umas bochechas de porco alentejano.
+ Ervideira
Marisco e peixe grelhado é a harmonização recomendada para a mesa, quando, no copo, está o Herdade Grande Roupeiro 2020 (€11,85). A mineralidade e a frescura deste vinho branco assim o determina. Na feitura deste foram seleccionadas uvas da casta Roupeiro vindimada na vinha da Herdade Grande, localizada na sub-região da Vidigueira. Esta propriedade vitivinícola pertence à família Lança desde 1920, que dispõe de experiências a explorar no âmbito do enoturismo, como o “Cesto picnic gourmet”, com uma ementa a fazer justiça à cozinha típica alentejana.
+ Herdade Grande
Em suma, se tiver a oportunidade de guardar alguns destes vinhos ganharão certamente com o tempo em garrafa. Brindemos!