A tradição, afinal, ainda é o que era. Podemos dizê-lo quando se trata da data de apresentação de mais uma colheita do vinho inspirado no método blanc de noir com o cunho da Ervideira.
Dia da Mentira à parte, a verdade é que o dia 1 de Abril foi eleito, uma vez mais, para dar a conhecer o Invisível branco, desta feita, de 2016, completando um ciclo de dez anos de trabalho dedicado pela dupla da Ervideira, no Alentejo, formada por Duarte Leal da Costa, director executivo, e Nelson Rolo, o director da equipa de enologia que, à beira do rio Tejo, em Lisboa, reuniram experts e curiosos para uma prova vertical composta pelas oito colheitas da mesma referência, com o propósito de analisar a evolução que as mesmas tiveram em garrafa.
O ano de 2009 “foi o mais difícil para nós”, revelou Nelson Rolo. Afinal, a cruzada do Invisível tinha começado em 2007 – ano em que assumiu a direção de enologia da Ervideira –, com experiências na elaboração de um vinho branco a partir de uvas tintas. Para o efeito, foram submetidas ao estudo uvas tintas, como a Touriga Nacional, o Cabernet e a Moreto (casta muito característica da região alentejana) até chegarem, por fim, ao Aragonês, a escolhida para compor a fórmula desta referência vínica, por a consideraram uma “casta mais nobre que atinge a plenitude que gostamos”, acrescenta o enólogo.
Além disso, Duarte Leal da Costa relembrou que “o Invisível é feito só com a lágrima de uva”– o primeiro sumo da uva –, mais uma razão que levou ambos – director executivo e enólogo – a optarem pelo Aragonês “cuja lágrima não tem pigmentação”. Já depois da vindima, efectuada durante a noite, a fim de evitar a oxidação e a fermentação, a uva é submetida ao “choque a frio sem contacto pelicular”, ou seja o mosto é separado de imediato das películas, para que não obtenha cor, e decantando por 24 horas a temperaturas muito baixas. Segue-se a inoculação do mosto com o auxílio de leveduras selecionadas e a fermentação é submetida a uma temperatura controlada de 12° C, entre 30 a 45 dias. Por fim, o estágio é feito em cubas de inox ao longo de cerca de seis meses.
Quanto à prova, a colheita de 2009 do Invísivel revelou a sua doçura no nariz e na boa, característica que atenuou bastante no vinho resultante da vindima de 2010, cuja acidez se revelou mais marcante.
Por sua vez, da colheita de 2011 até à de 2016, a acidez prevaleceu, mas de modo mais discreto, sobrepondo-se o travo adocicado, de novo, na de 2014, enquanto a de 2016 se mostrou mais consistente no seu todo, com uma acidez mais equilibrada e uma suavidade de boca mais atraente, apesar de, no nariz, sobressair o aroma doce.
Prova à parte, e com o término protagonizado pelo Invísivel branco 2016, importa salientar que a produção desta oitava colheita soma 60 mil garrafas – das quais 16 mil já estavam facturadas no passado Sábado, dia 1 de Abril – em contraposição às 13 mil da colheita de 2009, a primeira registada com a referência Invísivel.
No mercado exterior, a Europa está à frente, com a Bélgica, o Luxemburgo, a Holanda, a Alemanha, a Suíça, para além do Brasil e da China, apesar de Duarte Leal da Costa continuar a insistir na visibilidade do Invisível noutros países, em particular o Japão, uma vez que considera este vinho ideal para acompanhar sushi e sashimi, o dueto que compôs a entrada do almoço que se seguiu, ao que o vinho foi servido entre os 4 e os 6° C.
“Ainda estão as vinhas a brulhar e já estamos a ver o que queremos fazer na vindima de 2017″, rematou o director executivo, pelo que agora, é aguardar pelo primeiro dia de Abril de 2018, para degustar a próxima colheita do Invisível. •