Cem anos e longa vida a esta Herdade Grande

António e Mariana Lança, pai e filha, e Diogo Lopes, o enólogo, celebram a história desta propriedade alentejana, com o regresso do vinho de talha, ao mesmo tempo que brindam ao futuro, sinónimo de inovação, com a estreia do Sousão em garrafa e a aposta na reestruturação de 50 por cento da vinha. 

Fez-se festa rija às portas da Vidigueira, vila do distrito de Beja, no Baixo Alentejo. Contas feitas, já lá vão uma centena de anos de Herdade Grande, aquela que, no tempo do seu fundador, Ernesto Lança, era conhecida como a herdade maior a seguir à das Sesmarias. A génese desta imensa propriedade de 350 hectares está no Monte Velho, onde se fixou, teve os seus descendentes e cultivou o gosto pela produção de vinho de talha. 

A tradição vitícola e a preservação do vinho de talha mantém-se com o filho, Eduardo Lança, que passa a integrar a então Adega Cooperativa da Vidigueira. O património é deixado a António Lança, um dos seus três descendentes e herdeiro da paixão pela terra, pela vinha e pelo vinho. Esta dedicação incide na plantação, na década de 1980, de novas castas e no contínuo empenho na referida cooperativa. A viragem dá-se em 1997, com a criação da própria marca e o engarrafamento das suas colheitas.

Tradição. Inovação.

Feita a resenha da história sobre a Herdade Grande soma-se, ainda, os 50 anos de António Lança enquanto empresário agrícola e as “Bodas de Prata” que se avizinham como produtor vitivinícola. A seu lado está a filha e directora geral deste negócio familiar, Mariana Lança, que acumula as especialidades de viticultura e enologia, para quem este momento “celebra, também, o rejuvenescimento desta herdade”, uma vez que “queremos assumir o que fazíamos, ir até à origem do projecto”. Ou seja, o vinho de talha está, 25 anos depois, de regresso como um gesto de homenagem aos fundadores da Herdade Grande – Ernesto e Eduardo Lança.

Em simultâneo, está prevista a reestruturação de 50 por cento da vinha – com cerca de 60 hectares, dos quais 20 são de brancas e 30 de tintas – associada à aposta em novas castas, acima de tudo, portuguesas, para que sejam estudadas estudadas e avaliadas, mantendo as variedades de uvas alentejanas existentes na propriedade. O objectivo é promover a expressão genuína da Vidigueira – mais conhecida pela aposta na produção dos vinhos brancos, devido à frescura que este terroir lhe confere – nos vinhos da Herdade Grande.

Aliás, experimentalismo é palavra maior no vocabulário de Diogo Lopes, o enólogo da Herdade Grande, ofício que representa “a concretização de um sonho”. Afinal, a ligação à família Lança vem “desde os tempos da faculdade”.

O enquadramento dos novos vinhos neste contexto surge com a dupla Herdade Grande Amphora branco 2018, para acompanhar pratos de bacalhau, peixes gordos, bem como porco e borrego assados, e Herdade Grande Amphora tinto 2018 recomendado na harmonização de pratos da cozinha tradicional. O primeiro é “um talha puro”, com a fermentação feita em curtimenta, na própria talha, com as leveduras indígenas, remeximento das massas e interrupção do processo em Novembro. Sobre o segundo, apenas o estágio foi feito no talha, tendo a fermentação ocorrido em lagares de inox.

Entretanto, faça-se referência ao passado desta casa, com este Herdade Grande Vinhas Velhas branco 1991, um portento de qualidade vínica e a prova de que os brancos possuem, efectivamente, uma enorme potencial neste terroir que é a Vidigueira.

No entanto, o inesperado também acontece. Assim é este Herdade Grande Sousão 2017, o monocasta que comprova a frescura deste território. Feito a partir da uva tinta Sousão, confere o arrojo aliada à dinâmica da inovação resultante do experimentalismo tão em voga nesta Herdade Grande, onde os vinhos são produzidos com a consistência exigida nos dias de hoje. Experimente-o com borrego e cabrito assados no forno, e pratos de caça.

Os três são, seguramente, perfeitos para degustar em casa própria, já que o enoturismo aposta nas visitas personalizadas, desde que antecedidas de marcação prévia, até porque há que experimentar o almoço tipicamente alentejano, para acompanhar os vinhos. O horário é de segunda-feira a Sábado, das 10 às 18 horas (última entrada é às 17 horas), e vale bem a pena ir com tempo.


+ Herdade Grande
© Fotografia: João Pedro Rato

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