Em sentido figurado, o significado alusivo ao matrimónio tem a ver, aqui, com harmonização, e quão bem sabe um vinho fresco q.b., para partilhar com os amigos e num almoço de família.
The pink is the new black. Poderia ser este o mote para o alinhamento vínico que se segue, mas “não vamos de modas”, pois servir um rosé à beira da piscina ou como alternativa nas boas-vindas de uma qualquer ocasião especial ou evento é apenas o começo. Há que levá-lo para a mesa, apreciar os seus aromas, saborear os seus atributos, na companhia de pratos de cozinha asiática, aperitivos, saladas, peixe, marisco e carnes grelhadas. Tudo o que tenha a ver com o Verão ou até mesmo fora da estação. A temperatura ideal? A consumir entre os 8° e os 10° C. Vamos a isso?
Façamos esta viagem de Norte a Sul, a partir da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, com a primeira paragem em Alvaredo, freguesia de Melgaço, para provar o Soalheiro Mineral rosé 2020 (preço sob consulta), produzido na Soalheiro, projecto familiar, com quatro décadas de histórias para contar, sob a supervisão de António Luís Cerdeira. Feito a partir das castas Alvarinho, rainha da sub-região Monção e Melgaço e vindimada em vinhas de altitude, e a variedade de uva tinta Pinot Noir, colhida numa zona de influência Atlântica, este rosé é seco, mas denota frescura e uma mineralidade fora de série. A provar em casa ou aproveite as férias, para conhecer a adega.
Leve os amigos a fazer uma refeição ligeira ou tradicional, ou ancestral na vizinha Quinta da Folga, propriedade da família Cerdeira, com uma envolvente campestre de cortar a respiração. Aproveite para conhecer as infusões na casa de hóspedes com o mesmo nome – Casa das Infusões –, junto aos campos das ervas aromáticas e das vinhas da Soalheiro.
+ Soalheiro
Entremos na Região Demarcada do Douro, para provar o Crasto rosé 2021 (preço sob consulta) feito a partir das castas tintas Touriga Nacional e Touriga Franca, vindimadas em vinhas com mais de 20 anos, na Quinta do Crasto, situada em Gouvinhas, Sabrosa. O processo de vinificação esteve nas mãos do enólogo Manuel Lobo. Tudo somado, resultou num rosé, com notas de frutos silvestres e uma mineralidade fora de série, sem esquecer a frescura. Caso esteja pelo Douro, visite a propriedade e solicite a visita guiada seguida de almoço constituído por pratos típicos da região e harmonizado com prova de cinco vinhos. Tudo é feito com reserva prévia e tire partido da paisagem!
+ Quinta do Crasto
Ainda pelo Douro, é de aproveitar para conhecer Casa Ferreirinha Vinha Grande rosé 2021 (preço sob consulta), da Sogrape, à mesa, com a Touriga Nacional a conceder o seu potencial aromático a este vinho a par com a acidez, que notória na boca, assim como os frutos vermelhos. A receita é de Luís Sottomayor, que, desde 2007, está à frente da equipa de enologia do Douro, da Sogrape, que, este ano, celebra oito décadas. Quanto à Casa Ferreirinha, com mais de dois séculos e meio de história, e uma profunda ligação a Dona Antónia Adelaide Ferreira – vida e obra a conhecer nas Caves Ferreira, localizada no centro histórico de Vila Nova de Gaia –, está, desde 1987, nas mãos da empresa fundada, em 1942, por Fernando Guedes.
+ Sogrape
Siga em direcção à Quinta do Síbio. Localizada no Vale do Roncão, e que se estende até ao planalto de Alijó, em pleno Douro vinhateiro, esta propriedade é uma cinco e das mais antigas da Real Companhia Velha, cuja origem está na Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, instituída em 1756, aquando a criação da Região Demarcada do Douro, por D. José I, sob o conselho do então Primeiro-Ministro José de Carvalho e Melo, conhecido por Marquês e Pombal.
História à parte, falemos do vinho, do Síbio rosé 2020 (€15,50), da Real Companhia Velha, feito a partir das castas tintas Touriga Franca e Touriga Nacional. Ambas são colhidas na Quinta do Síbio, onde também são vindimadas variedades de uva tradicionais do Douro, para a gama Séries desta empresa bicentenária. Sobre o rosé, sobressaem os aromas frutados, a frescura e a acidez viva, atributos perfeitos, elaborados com o toque do enólogo Jorge Moreira, para ter à mesa, em casa, ou na Enoteca 1756, o restaurante da Real Companhia Velha localizado em Vila Nova de Gaia, onde as sugestões incluem comida asiática, pizzas e pastas, peixe e marisco.
+ Real Companhia Velha
Dê um salto à Região Demarcada da Península de Setúbal, com Bacalhôa Roxo Vinha dos Frades rosé 2020 (€9,90) no copo. Este vinho é feito a partir de Moscatel Roxo, variedade de uva que, até há poucos anos, estava condenada a desaparecer, mas, graças ao esforço de produtores deste território vitivinícola, está a vingar. Para este rosé, esta variedade de uva foi vindimada na vinha plantada em 2003, na Quinta dos Frades, localizada na encosta Norte da Serra da Arrábida. O resultado, que teve a mão da enóloga Filipa Tomaz da Costa, traduz-se num vinho aromático q.b. e, na boca, revela-se fresco, mineral e seco, perfeito para quem não aprecia muito vinhos muito aromáticos.
Sobre a Bacalhôa, é de visitar o Palácio e Quinta da Bacalhôa, situada em Vila Nogueira de Azeitão. Terá sido no século XV, que o edifício, os muros e o tanque foram erguidos. No século XVI, foi mandada erigir a Casa dos Prazeres, junto ao enorme espelho de água. O património arquitectónico e também azulejar desta propriedade histórica pesaram na decisão da compra por parte da norte-americana Orlena Scorville, na década de 1930. Hoje, esta quinta conserva os azulejos e dá a conhecer D. Catarina de Bragança, através de uma exposição permanente, por causa da gama de vinhos Catarina.
+ Bacalhôa
Entremos na Região Demarcada do Alentejo, mais concretamente no Alto Alentejo, com Carlos Reynolds rosé 2021 (preço sob consulta). Feito a partir da casta tinta Aragonez, mostra o seu potencial aromático, com destaque para os frutos silvestres, que, na boca, deixa transparecer os atributos desta variedade de uva de forma equilibrada, mas muita frescura e mineralidade, tornando-se viciante.
Já Carlos Reynolds é, por sua vez, o representante da sétima geração e o mais novo da família Reynolds. À semelhança dos seus ascendentes – Robert Reynolds, Gloria Reynolds e Julian Reynolds –, que deram o seu nome a esta gama de vinhos, que fazem parte da Reynolds Wine Growers. Quanto à história desta empresa, que, desde 1850 produz vinho no Alentejo, tem na Herdade de Figueira de Cima, em Arronches, no distrito de Portalegre, o epicentro de todos os procedimentos inerentes à cultura da vinha e do vinho.
+ Reynolds Wine Growers
Daqui, viajemos até à Herdade da Malhadinha Nova, em Albernoa, pequena aldeia situada a escassos quilómetros de Beja, para conhecer o novo Malhadinha rosé 2021 (€27), feito a partir das variedades de uva Touriga Nacional, Tinta Miúda Baga Touriga Franca, um trabalho da responsabilidade do enólogo Nuno Gonzalez. Este é o primeiro rosé desta gama assumidamente biológico. As notas de frutos silvestres e ligeiramente florais, denotam frescura e uma acidez equilibrada, na boca.
Este vinho é de beber à mesa, em casa e com os amigos, ou na sala de provas da Herdade da Malhadinha Nova, pertencente à família Soares. Depois há o restaurante, com a consultoria do chef Joachim Koerper, na cozinha, e a chef Cintia Koerper, na pastelaria, sem esquecer Rodrigo Madeira, o chef residente, que conta com a sua equipa, para acicatar o palato de quem passa ou está hospedado na country house ou nas casas, ou na venda, que reúnem seis alojamentos de sonho.
+ Herdade da Malhadinha Nova
Outro lugar paradisíaco é a Herdade do Sobroso, situada em Pedrógão, no concelho da Vidigueira, de Sofia e Filipe Machado, onde foi vindimada a casta Syrah para o Herdade do Sobroso Cellar Selection rosé 2021 (€15,95) e vinificada sob o controlo do enólogo e co-proprietário desta propriedade. A predominância dos frutos silvestres no nariz, ganha complexidade, com a frescura e a sensação de mineralidade, características que conferem um grande potencial, para acompanhar – imagine-se! – um cozido de grão, à moda do Alentejo.
Teste esta experiência à mesa do restaurante da Herdade do Sobroso, onde a Dona Josefa, com as suas mãos de fada, trata do nosso estômago a bem da nossa alma. Aproveite para desfrutar da calma deste que é um dos lugares mais cativantes do Alentejo, eleger um dos onze quartos do wine hotel, com vista para a vinha, o montado e a Serra do Mendro, e passear pelas vinhas. Mas há muito mais para fazer por aqui.
+ Herdade do Sobroso
Rosés à parte, terminemos este itinerário no Morgado do Quintão, propriedade vitivinícola localizada no concelho de Lagoa, no barrocal algarvio, entre a Serra de Monchique e o Atlântico, onde a vinha de sequeiro tem, entre outras a casta branca Crato Branco (também conhecida por Roupeiro, no Alentejo, e Síria, na Beira Interior) e a tinta Negra Mole, típicas da região Algarvia. Eis as variedades de uva seleccionadas pela enóloga Joana Maçanita, para o Morgado do Quintão Palhete 2019 (€15 / colheita de 2021), um vinho com notas suaves de morango e que apetece pela sensação de salinidade na boca e pela evolução em garrafa, pois mostra-se ainda mais sério do que quando bebido no ano de 2021.
O Morgado do Quintão é uma propriedade de Filipe Caldas de Vasconcellos, que viu nesta quinta de família, situada no Algarve, a oportunidade de concretizar o seu sonho de produzir vinho. Simultaneamente, as vinhas velhas permitiram a recuperação das duas castas acima referidas, em particular a tinta, que estava na iminência de desaparecer. Se estiver por terras algarvias, solicite a visita às vinhas e prove os vinhos, mas só mediante marcação prévia, já que as características destes néctares têm a particularidade de revelarem quão influente pode ser o mar na vinha e, por consequência, no vinho. Delicie-se com a boa gastronomia algarvia à Mesa dos Agricultores e vivencie as experiências disponíveis intramuros. Fique nas casas de campo e respire a tranquilidade deste cantinho idílico.
+ Morgado do Quintão
Brindemos ao Verão e à saúde!