A afirmação do Vinho Verde à mesa do De Castro Flores / A&D Wines

A apresentação do Singular, entre outras referências de Baião, a norte, foi o mote para um almoço vínico no De Castro Flores, restaurante do chef Miguel Castro e Silva, em Lisboa, que acolheu este desafio de bom grado.

As colheitas de 2015 de Avesso, Arinto e Chardonnay para a referência Monólogo

Apesar de já não o fazer “há algum tempo”, de acordo com as palavras proferidas no início do repasto, o chef portuense recebeu no seu restaurante da praça das Flores, em Lisboa, Alexandre Gomes e Dailina Azevedo, os produtores e co-fundadores da A&D Wines, e Fernando Moura, o enólogo, que deram a conhecer as colheitas de 2015 da Casa do Arrabalde, da Quinta dos Espinhosos e da Quinta de Santa Teresa. E cada uma demonstra “perfis diferentes”, afirmou o homem que se dedica à enologia desta sociedade formada em 2005.

O camarão com toranja, cardamomo e malagueta, o tártaro de carapau com gengibre e o ravioli de requeijão com gema e parmesão

Vamos às apresentações das primeiras edições dos Monólogos, nome escolhido como alusão às castas utilizadas para cada uma, pois tratam-se de monovarietais, ou seja, são vinhos feitos apenas com uma variedade de castas. Monólogo Avesso branco 2015 é composto pela casta típica da sub-região dos Vinhos Verdes oriunda da Quinta de Santa Teresa, a propriedade de onde foi colhida a casta Arinto da parcela 24, para fazer o Monólogo Arinto branco 2015. Já o Chardonnay do Monólogo de 2015 é da Quinta dos Espinhosos. “São vinhos tranquilos”, declarou o enólogo, aquando da degustação, para a qual Miguel Castro e Silva preparou um tártaro de camarão com toranja, cardamomo e malagueta, para o primeiro, um tártaro de carapau com gengibre, que ficou muito bem com a segunda referência, e um ravioli de requeijão com gema e parmesão, para harmonizou com o terceiro.

A propósito das duas quintas aqui referidas, Fernando Moura falou da produção biológica implementada em ambas e da promessa de, “se as condições climatéricas o permitirem”, manter a produção destes vinhos com as castas das mesmas parcelas indicadas nos rótulos, as quais foram escolhidas “em função do grau de maturação”, continuou o enólogo.

O Espinhos branco 2015 a acompanhar o arroz de garoupa com amêijoa

No alinhamento da cozinha do De Castro Flores, foram servidos dois pratos distintos de garoupa. Deste modo, o Espinhosos branco 2015, feito a partir de Avesso e Chardonnay, acompanhou o arroz de garoupa com amêijoas, tendo a percentagem maior (70 por cento) racaído para o Avesso em contraposição dos 30 por cento da segunda casta, para que esta não se sobrepusesse à primeira, sendo que “esta casa não faz os vinhos por receita, fá-lo por colheita”, ou seja, “em função do ano”, explicou o enólogo.

Para o Casa do Arrabalde branco 2015, Miguel Castro e Silva serviu a garoupa grelhada com creme shitakii

Por sua vez, o Casa do Arrabalde branco 2015, cuja composição integra as castas Avesso (40 por cento), Alvarinho (20 por cento) e Arinto (40 por cento), cuja “escolha é feita em função do lote das uvas”, disse Fernando Moura, acompanhou a mui apreciada garoupa grelhada com creme de shitakii. Quanto à harmonização, esta foi de truz.

A colheita de 2015 do Singular branco fez par com o rolo do peito de vitela

Para o Singular branco 2015, “o vinho do enólogo”, nas palavras do próprio, “foi feito com as melhores castas da adega”, pelo que a sua fórmula contém Arinto, Alvarinho, Avesso, Chardonnay, Malvasia Fina – que, no total, perfazem 50 por cento –, sendo a outra metade composta por vinhas velhas.

A sobremesa de maçã esteve à altura do mesmo Singular

Desta feita, Miguel Castro e Silva resolveu servir um rolo do peito de vitela com alecrim e “um molho muito suave de mostarda portuguesa” para este vinho, que também rematou o repasto ao lado do gratinado de maçã com molho inglês.

Numa súmula, a história começou em 1991, quando Alexandre Gomes iniciou o plantio de uma vinha com cerca de cinco hectares distribuídos por seus parcelas, onde foram enxertadas vides de Arinto, Avesso e Alvarinho, as castas autóctones da sub-região de Vinhos Verdes. Volvidos 14 anos, é constituída a sociedade A&D Wines, em Baião, que faz fronteira entre a região dos Vinhos Verdes e a do Douro. Mais tarde, em 2007, é produzido o primeiro vinho e, em dezembro desse mesmo ano decidiram investir nas “máquinas”, contou Dialina Azevedo, ao que se seguiu a aquisição da Quinta dos Espinhosos, onde “a exposição solar é mais forte”. Em 2015 entra em cena a Quinta de Santa Teresa onde, no mesmo ano, a empresa avançou com uma adega temporária, com o intuito de fazer a vinificação das castas oriundas das três quintas, perfazendo um total de 45 hectares.

Vamos por partes. Na Casa do Arrabalde, localizada a cerca de 600 metros de altitude e com cinco hectares de vinha plantada, há cerca de 20 anos, com as castas Avesso, Arinto e Alvarinho, as quais conferem vinhos com pouco álcool, mas muita acidez, sendo a primeira colheita datada de 2007.

Na Quinta dos Espinhosos há as castas Avesso e Chardonnay numa vinha de sete hectares localizada a uma altitude de 450 metros, o que confere um carácter intermédio ao vinho produzido, ou seja, o álcool e a acidez apresentam-se mais ou menos equilibrados desde a primeira colheita, em 2009.

Na Quinta de Santa Teresa, com 200 metros de altitude média, os vinhos, feitos a partir das castas Avesso, Arinto, Alvarinho e Malvasia, para os brancos, e Touriga Nacional e Vinhão – este será reinxertado de Touriga Nacional – para os rosés, denotam maior acidez e menor quantidade de álcool, passando a ser “a nossa casa mãe”, declarou Dialina Azevedo, daí a possibilidade de potenciar, a médio prazo, a atividade de enoturismo, estando o investimento a ser orientado para a requalificação das vinhas, a reconstrução da antiga adega e o aumento produtivo por meio de estruturas técnicas e tecnológicas.

Brindemos a vinhos que dificilmente se esquecem! •

+ A&D Wines
© Fotografia: João Pedro Rato
Legenda da foto de entrada: Alexandre Gomes e Dialina Azevedo, da A&D Wines, o chef Miguel Castro e Silva, e o enólogo, Fernando Moura

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