Conciliemos os vinhos com o Dia de Páscoa

O almoço de Domingo é, para muitos, levado à letra e a harmonização vínica um imperativo. Por isso, deixamos sugestões para combinar, à mesa, com os pratos tradicionais e outras receitas eleitas do livro de família aí de casa, através de uma espécie de roteiro vínico por cinco regiões vitivinícola do país.

Região Demarcada dos Vinhos Verdes


Iniciemos este roteiro vínico pela Região Demarcada dos Vinhos Verdes, com Bico Amarelo branco 2020 (€4,99) feito a partir das castas Loureiro, Alvarinho e Avesso vindimadas na Quinta do Ameal, propriedade vinhateira centenária localizada no Vale do Lima e pertencente à Esporão. Dotado de notas cítricas e florais equilibradas pela frescura, pelo volume e pela acidez conferidos por este trio de variedades de uva típicas da referida região vitivinícola. Eis o vinho para iniciar o repasto e acompanhar as entradas servidas neste almoço domingueiro.

+ Esporão

Região Demarcada do Douro


Avancemos para a centenária Real Companhia Velha, a empresa duriense que recomenda um quinteto formado por três vinhos e dois queijos, para um repasto pascal com princípio, meio e fim. Quinta dos Acipestres branco 2019 (€9), feito das típicas castas brancas Rabigato, Viosinho e Arinto, vindimadas na propriedade homónima situada em Soutelo do Douro, na sub-região de Cima Corgo, é o vinho perfeito para abrir as hostilidades à mesa, na companhia de marisco ou enchidos, e permanecer na garrafa até ao final da refeição – se chegar até lá – para harmonizar com os queijos. A justificação para estas recomendações devem-se à intensidade aromática e frescura características das variedades de uva que compõem este branco, do qual sobressaem, na boca, a estrutura, a acidez e um final prolongado. 

Da vinha de São João da Pesqueira, também na sub-região de Cima Corgo, é indicado o Quinta de Cidrô Touriga Nacional & Cabernet Sauvignon 2016 (€18), o vinho eleito para o cabrito de Domingo de Páscoa, com base nos seus atributos obtidos através do trabalho realizado com as castas, seja na vinha, seja na adega, onde o estágio em barricas de carvalho que conferiram notas de fruta preta e chocolate, bem como estrutura, complexidade e um final de boca persistente. 

Lembra-se do branco? Está na altura de servir os queijos curados e pasta semi-mole – o de cabra curado, de leite cru, e o Queijo da Beira Baixa DOP, de Castelo Branco, feito com leite cru de ovelha –, ambos da Fromagerie Portuguesa instalada na Enoteca 17•56, espaço de índole gastronómica localizado em Vila Nova de Gaia. Para terminar, eis que chega a vez do Real Companhia Porto Tawny 10 anos (€20) ideal para acompanhar qualquer sobremesa com chocolate ou degustar, simplesmente, a solo depois do folar.

+ Real Companhia Velha


Continuemos na sub-região de Cima Corgo, na mais antiga região demarcada do mundo, desta vez para degustar dois vinhos da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, a propriedade da família Amorim situada em Sabrosa. Pomares branco 2020 (€7,49), feito a partir das variedades de uva Viosinho, Gouveio e Rabigato, que conferem aromas vibrantes, frescura e um final longo, excelente para dar início ao repasto na companhia de marisco ou de um peixe ao sal. Já o Pomares tinto 2019 (€7,49) remete para os atributos do Douro no copo, como a sensação de fruta preta a somar aos taninos elegantes e ao final persistente deste vinho composto por Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional, daí que seja a combinação de truz para o prato de borrego ou cabrito. O dueto vínico pode ser encomendado a partir da loja online

Aproveitamos para relembrar que a propriedade conta com o Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Winery Hotel, totalmente renovado há cerca de um ano, é a primeira unidade hoteleira, no Douro, a ostentar a insígnia Relais & Châteaux e cuja reabertura está agendada para o próximo dia 5 de Abril.

+ Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo

Região Demarcada do Dão


Rumemos até à Região Demarcada do Dão, onde a família Amorim está a desenvolver o projecto vitivinícola de nome Taboadella, localizado em Silvã de Cima, Castendo. Em cima da mesa está Taboadella Villae branco 2020 (€9,90), vinho que combina a acidez da Encruzado e da Cercial com as notas de pêssego e alperce, e a intensidade aromática dos frutos tropicais, típicos da Bical, para quem prefere o bacalhau aos tradicionais pratos de cabrito ou borrego, ou chanfana, típica da Beira Litoral. Estas receitas de carne podem ser harmonizados, por sua vez, com Taboadella Villae tinto 2019 (€ 9,90) feito a partir das castas Tinta Roriz, Jaen, Alfrocheiro e Tinta Pinheira (ou Rufete) que, juntas, conferem a sensação de fruta generosa a este vinho elegante e com final persistente. Ambas as referências podem ser encomendadas através da loja online .

Face à inexistência de data prevista para abertura, é de convir a recomendação de visita à Taboadella, para explorar e fazer provas de vinho, (re)descobrir a região através das peças e objectos disponíveis à venda na loja e ficar na Villae 1255, alojamento instalado na antiga casa senhorial desta propriedade.

+ Taboadella

Região Demarcada do Douro + Vinhos do Tejo


Pelo meio, falemos de um vinho feito a partir da casta Fernão Pires vindimada em Vila Chã de Ourique, em plena Região do Tejo, e de vinhas velhas da Quinta de Monte Travesso, propriedade vinhateira situada em Barcos, Tabuaço, na Região Demarcada do Douro, o Parceiros na Criação Dote branco 2018 (€20). Eis a estreia da Parceiros na Criação – produtor vitivinícola, representado pelo casal Joana Pratas (natural do Tejo) e João Nápoles de Carvalho (natural de Douro), que inclui as referências Esteira e Casa da Esteira no seu portefólio vínico –, um vinho que está pronto a beber, mas tem potencial de guarda, acto que, certamente, irá potenciar a conjugação das variedades de uva autóctones do Douro com a casta rainha da Região do Tejo, a qual se revela, no nariz, a sua exuberância floral e frutada. Os atributos deste branco são perfeitos para acompanhar queijos, mariscos e pratos de peixe assado no forno.

A encomenda deste Dote – cuja história remete para a génese da referida quinta, então oferecida à avó paterna de João Nápoles de Carvalho, e centro nevrálgico da Parceiros na Criação – é feita, para já, online aqui. 

+ Parceiros na Criação

Região dos Vinhos de Lisboa


Passemos à Região dos Vinhos de Lisboa, com paragem em Codiceira, Azóia, freguesia do concelho de Leiria, pertencente à área geográfica das Encostas d’Aire, onde está a Quinta da Sapeira, propriedade familiar dedicada à produção de uva e de vinho. A sugestão é Quinta da Sapeira Fernão Pires 2015 (preço sob consulta), uma raridade que obrigada a ida à loja física, viagem que promete no que à descoberta de vinhos de truz diz respeito. A sensação de salinidade, a frescura e a acidez são características indissociáveis a este vinho branco, que expressa o terroir de uma região a explorar.

+ Quinta da Sapeira


Viajemos até à Labrugeira, no concelho de Alenquer, para conhecer este Espumante Vale das Areias Bruto Natural 2017 (preço sob consulta) da Sociedade Agrícola da Labrugeira, fundada em 1955 por Fernando Martins, conhecida figura da cosmopolita lisboeta, graças à construção do, agora, Altis Grand Hotel e, posteriormente, do Grupo Altis Hotels, bem como à sua ligação, sempre pacífica, ao mundo do futebol português. Feito a partir da casta branca Arinto, este espumante denota frescura, complexidade e final de boca prolongado, entre outros atributos reveladores de um trabalho rigoroso realizado, passo a passo, na adega. A acidez e frescura pronunciadas, associadas à referida variedade de uva branca e somadas à bolha fina, fazem deste espumante uma verdadeira surpresa e a “rima” perfeita para harmonizar com ostras, marisco, pratos de peixe e de carne ou brindar numa ocasião especial. Espreite a loja online .

+ Vale das Areias


Ainda por Alenquer, concelho pertencente à Região dos Vinhos de Lisboa, é de conhecer os vinhos Sociedade Agrícola Félix Rocha, com sede na Quinta da Ribeira, propriedade vitivinícola que concentra, para já, a adega e a loja e sala de provas recentemente concluídas. O destaque, aqui, é dado a Félix Rocha Chardonnay 2018 (preço sob consulta), vinho que evidencia as notas aromáticas desta casta branca equilibradas pela acidez da fruta amarela que lhe é atribuída, características acrescidas de frescura e da sensação de mineralidade, além do final de boca persistente. À mesa, sirva este vinho com ostras, marisco e pratos de peixe assados no forno.

+ Sociedade Agrícola Félix Rocha

Região Vitivinícola do Alentejo


Entremos, agora, pela região vitivinícola do Alentejo adentro com paragem na CARMIM – Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz que, este ano, celebram o seu 50.º aniversário. A ocasião pede festa a ser feita por esta dupla constituída por Grande Reserva branco 2019 e Grande Reserva branco 2017 (€29,90 cada). O primeiro conjuga as notas tropicais e o aroma frutado da Antão Vaz com a acidez e a frescura da Arinto, gerando estrutura e complexidade, e termina com um final longo e persistente, atributos que pedem repetição no copo, para acompanhar pratos de mariscos. Já o segundo, feito a partir de Alicante Bouschet, Aragonez (ou Tinta Roriz) e Touriga Nacional é perfeito para servir com os pratos tradicionais da efeméride.

Sobre a história da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz, fundada por 60 viticultores, em 1971, é de destacar o adegueiro, profissão desempenhada, ao longo de 39 anos, por José Simőes, de 78 anos, que recorda os tempos difíceis de outrora compensados, hoje, pela dedicação expressa de quem trabalha as vinhas e a uva, no campo e, posteriormente, na adega. Sem esquecer a loja online , onde pode conhecer outras referências desta casa.

+ CARMIM


Na direcção da Vidigueira está Cortes de Cima, propriedade de Hans (dinamarquês) e Carrie (norte-americana) Jorgensen localizada na Vidigueira e com vinhas na Serra do Mendro e em Vila Nova de Mil Fontes, próximas da costa alentejana. Em destaque está Cortes de Cima Trincadeira 2015 (preço sob consulta), uma verdadeira surpresa justificada pela sua elegância e acidez q.b., bem como pela frescura e o final de boca prolongado, que combinam com um prato de bochechas de porco alentejano ou de vitela estufadas e uma sobremesa feita de chocolate. A partilhar com os amigos que, pela raridade, pode ser substituído pela colheita de 2016 (€18,99) a adquirir aqui

+ Cortes de Cima


Terminemos a viagem com um trio de vinhos da Herdade Vale d’Évora, propriedade de 550 hectares integrada no Parque Natural do Vale do Guadiana e localizada a escassos quilómetros de Mértola. O primeiro é Discórdia branco 2019 (€8,50), composto pelas castas Arinto e Verdelho e é de abrir para harmonizar com as entradas, enquanto o Discórdia tinto 2018 (€8,50), feito a partir de Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Touriga Franca e Syrah, é de acompanhar a carne deste Domingo. Já o Discórdia Reserva branco 2019 (€17), um blend constituído por Arinto, Antão Vaz e Verdelho apresenta características que “rimam” com pratos de peixe assado. As referências estão à venda aqui .

+ Herdade Vale d’Évora


Porque uma refeição à boa mesa portuguesa requer azeite, ei-lo: Esporão Azeite Virgem Extra Biológico (€9,49). Trata-se de uma novidade predominantemente feita a partir da variedade de azeitona Galega e produzido no lagar instalado na Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz. Ideal, sobretudo, para temperar as saladas, as entradas, a perna de borrego assado e integrar na receita de leite creme de citrinos e azeite a provar esta Páscoa!

+ Esporão

© Fotografia: João Pedro Rato

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