E, em Portugal, as estrelas Michelin vão para…

… 21 restaurantes. Ao todo são, agora, 26 as estrelas do Guia Michelin Espanha & Portugal 2017 conquistadas por chefs portugueses e de além fronteiras que, ao longo de um ano, puseram, dentro de portas, o saber-fazer e a criatividade à prova de muitos dos apaixonados pela chamada alta cozinha.

Falamos, claro está, do resultado da noite de ontem, 23 de Novembro de 2016, quando o Guia Michelin Espanha & Portugal 2017 somou à lista anterior de 14 restaurantes com estrelas Michelin (11 com uma e três com duas), sete novos com uma, atribuindo duas a dois que, até à data, tinham uma estrela Michelin. Feitas as contas, hoje são 21 os restaurantes em Portugal com estrelas Michelin – 16 com uma e cinco com duas.

Contas à parte, o melhor é consultar o mapa da Mutante.

Sobre as boas novas para a alta cozinha em Portugal, Rui Paula, chef da Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, Matosinhos, e que conquistou, pela primeira vez, a estrela Michelin, afirmou, “finalmente, Portugal está a ser reconhecido com mérito pela sua gastronomia” e Alexandre Silva, chef do Loco, em Lisboa, o qual acaba de ver o trabalho da sua equipa reconhecido, pela primeira vez, com uma estrela Michelin – assim como o Antiqvvm (1 estrela Michelin), no Porto, com o chef Vítor Matos, e o Lab (1 estrela Michelin), do chef Sergi Arola, no Penha Longa Resort, em Sintra, e o Alma, do chef Henrique Sá Pessoa, em Lisboa –, declarou ser “mais do que merecido para além de cozinheiro também sou cliente em Portugal e no resto do mundo e sei que estamos ao mesmo nível e, em alguns casos, melhor.”

“O Guia [Michelin] olhou, finalmente, para o nosso país e compreendeu o crescimento que existe no fine dining em Portugal” / chef Leonel Pereira

A análise positiva foi também partilhada por Leonel Pereira, chef do São Gabriel (1 estrela Michelin), em Almancil, para quem “o Guia [Michelin] olhou, finalmente, para o nosso país e compreendeu o crescimento que existe no fine dining em Portugal”. E “é muito bom para o país, para o status dos cozinheiros. Bom para todos. Estimula os colegas. O cozinheiros em Portugal mereciam, há muito tempo, esse reconhecimento”, nas palavras de Joachim Koerper, chef do Eleven (1 estrela Michelin), em Lisboa, e chef consultor do William – que também recebeu, na noite passada,  uma estrela Michelin –, do Belmond Reid’s Hotel, no Funchal, Ilha da Madeira, num trabalho conjunto com o chef residente, Luís Pestana.

Para Miguel Laffan, chef do Restaurante L’And, no L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, no Alentejo, o qual (re)conquistou a estrela Michelin, as “novas” estrelas – em menor número do que se apregoava e menos ainda quando comparamos a  numeração com a quantidade de estrelas que foram conquistadas por restaurantes do país vizinho – “são o reflexo de uma formação diferente, de uma formação mais actual nas escolas (de Turismo e Hotelaria), temos muitos cozinheiros que forma lá para fora, que consomem mais informação”.

Miguel Rocha Vieira, chef do Fortaleza do Guincho (1 estrela Michelin), em Cascais, para quem, e “pela lógica, as estrelas Michelin são sinónimo de qualidade, suponho que haverá ainda um maior interesse pela gastronomia”, esperando que esta realidade “acabe por se reflectir nas escolas de hotelaria e nos fornecedores e na qualidade dos seus produtos”.

E agora? Que impacto poderão estas conquistas vir a ter no Turismo e, por conseguinte, na Economia no país?

Segundo o chef Leonel Pereira, “o roteiro gastronómico português irá tornar-se mais forte” e “o turista acaba por fazer um roteiro Michelin”, acentuou o chef Joachim Koerper. Ricardo Costa, chef no The Yeatman (2 estrelas Michelin), em Vila Nova de Gaia, diz mesmo: “A grande evolução dos últimos anos tem sido a descentralização dos restaurantes de topo em Portugal. Porto, Lisboa, Algarve e Madeira estão a afirmar-se no roteiro da alta gastronomia nacional e isso é muito positivo para o país. No Porto, por exemplo, o facto de passarmos de duas para cinco Estrelas irá reforçar o turismo gastronómico na região.” E “com esta ‘chuva de estrelas’, vai-se ouvir falar muito de Portugal e vão chegar novos clientes à nossa restauração – não só aos restaurantes com estrelas, mas a todos os tipos de restaurantes”, afirmou Ljubomir Stanisic, chef do Bistro 100 Maneiras e do 100 Maneiras, em Lisboa. 

Michel van der Kroft, chef do ‘t Nonnetje (duas estrelas Michelin), em Harderwijk, na Holanda, casado com uma portuguesa e que, este ano, participou em três eventos da edição de 2016 da Rota das Estrelas, sublinhou que, deste modo, “mais foodies de tudo mundo vão passar a viajar para Portugal, para descobrir a gastronomia de Portugal” e “clientes com maiores expectativas”, um bom mote para, em simultâneo, conhecer as diferenças que existem na cozinha de Norte a Sul e Ilhas (Madeira e Açores).

A riqueza de um país está na diversidade (…) logo, este aumento de oferta neste segmento parece-me benéfica para todos.” / chef João Rodrigues

Por sua vez, João Rodrigues, chef no Feitoria (1 estrela Michelin), do Altis Belém Hotel & Spa, em Lisboa, faz uma análise importante: “O problema das estrelas em Portugal é perceber se temos mercado para restaurantes com estes preços, mas com o crescendo do turismo esse mercado acaba por aparecer. A riqueza de um país está na diversidade, isto serve para qualquer área de negócio, logo, este aumento de oferta neste segmento parece-me benéfica para todos.” Por essa razão, o chef Ricardo Costa afirma com veemência: “Vamos continuar a trabalhar com a máxima dedicação e empenho para continuar a evoluir, com consistência. A fasquia é elevada a cada dia, independentemente das Estrelas Michelin.”

Haverá lugar para criar um roteiro gastronómico dentro de portas (tendo em conta que há restaurantes de cozinha tradicional tão bons que podem, perfeitamente, complementar esta oferta)?

O chef Ljubomir Stanisic corroborou, dizendo “há lugar sim” e “um bom restaurante tradicional pode ganhar uma estrela. Vão surgir mais lugares e vão surgir mais estrelas”. Com efeito, “ter mais prémios, mais oferta e mais desenvolvimento é bom para qualquer espaço que faça bem o seu trabalho. É desafiante e haverá mais projecção de todos os que se empenham a longo prazo”, enfatizou o chef Rui Paula, para quem o objectivo da equipa da Casa de Chá da Boa Nova, “com prémio ou sem prémio, é todos os dias fazermos melhor e sermos melhores um dia após o outro”.

Sobre a conquista da estrela Michelin, o chef Alexandre Silva afirmou: “O Loco foi pensado para funcionar como funciona. Não vamos mudar a nossa maneira de fazer de ser e de estar, vamos continuar igual. Se existir algum upgrade será nas ferramentas necessárias para conseguirá criar mais. Mas seremos iguais ao que somos.”

Com a entrada na lista de duas estrelas Michelin, Benoît Sinthon, chef no Il Gallo d’Oro, no The Cliff Bay, no Funchal, Ilha da Madeira, expressa-se da seguinte forma em comunicado: “Sinto-me muito honrado! Esta segunda estrela significa que o Guia Michelin sente que o Il Gallo d´Oro apresenta uma cozinha original e de autor que garante, a quem nos visita, uma grande experiência.”

“(…) acho que a Michelin não teve outro remédio que não aumentar esta constelação, que peca, na minha opinião, por ser tardia” / chef Miguel Rocha Vieira

Sobre as estrelas atribuídas e que se encontram registadas no Guia Michelin Espanha & Portugal 2017, o qual, nas palavras do chef Leonel Pereira, “continua a ser uma referência mundial e a única organização que continua a ser credível” neste universo da gastronomia, “por toda a gente que visitou o nosso país este ano, por tudo o que foi escrito e que se falou lá fora, pela qualidade da nossa gastronomia e dos nossos cozinheiros, pelas comparações (inevitáveis) com os guias de outros países, acho que a Michelin não teve outro remédio que não aumentar esta constelação, que peca, na minha opinião, por ser tardia”, rematou Miguel Rocha Vieira.

À lista de restaurantes com estrela Michelin em Portugal há que acrescentar o Ocean (2 estrelas Michelin), com o chef Hans Neuner, no Vila Vita Parc, em Porches, o Vila Joya (2 estrelas Michelin), com o chef Dieter Koschina, do boutique hotel Vila Joya, em Albufeira, o Bon Bon, com o chef Rui Silvestre, no Carvoeiro, o Henrique Leis (1 estrela Michelin), do chef Henrique Leis, em Almancil, o Willie’s, do chef Willie Wurger, em Vilamoura, o Belcanto (2 estrelas Michelin), do chef José Avillez, em Lisboa, o Pedro Lemos (1 etrela Michelin), do chef Pedro Lemos, no Porto, o Largo do Paço (1 estrela Michelin), da Casa da Calçada, em Amarante, agora com o chef Tiago Bonito na cozinha.

Para terminar, e como “optimista por natureza” que é, Miguel Laffan acredita que “vamos começar uma nova era” na gastronomia portuguesa. Será? •

[Artigo actualizado a 19 de Julho de 2017]

© Infografia: João Pedro Rato

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